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          Tenho o passado no avesso da alma.
          Entrego-me à procura. Penso que estou viva. Reproduzo-me nas sombras.
          Nos cabelos, laços coloridos. Nos olhos a luz de muitos sonhos, as estradas. As músicas já não são as mesmas que me davam saudade, prolongavam as noites e as dores. Valsas e choros, sons magoados. As palavras tremem sem poder falar.
          Deponho, sobre o papel, feito o soldado vencido que depõe as armas, as palavras revoltadas que não se entregam.
          Deixo meus passos sobre a calçada da praça, nos degraus da Igreja, pelas ruas estreitas, nas ladeiras da serra, nos corredores do convento. Levo-me de volta às festas do entardecer, festas de sons, risos e inconseqüências. Nos caminhos da várzea sonolenta, o coaxar dos sapos, o mugido dos bois, o murmúrio do regato, o som das Ave-Marias, os sonos da catedral.
          No silêncio do mundo escuto meus passos, os mesmos que me levam e trazem-me de volta ao cair da tarde.
          Escrevo capítulos de mim sem seqüência, sem coerência, sem enredo uma história de lembrar.
          De onde me vem esta vontade de saber, de conhecer, de ter nas mãos os mistérios da vida? Ando com o tempo, sem interromper a história de um mundo alcoviteiro de amores inventados.
          Os murmúrios da noite contam-me os segredos de uma alma triste que nunca adormece no silêncio do esquecimento.
          As palavras esmagadas sobre o papel, sangram, sufocam agonizam.
          A madrugada se foi no tempo transfigurado. O pensamento agoniza acorrentado às palavras.
          A alma perturbada é noite que não consegue amanhecer.
          O vento resgata tristezas. As lembranças, consolam-me de mim, das ausências, das presenças negadas.
          Anoiteço.
Obs: Texto retirado do livro da autora – Pecados de Areia.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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