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Por aqui, o tempo é de festa. Animados pelo sopro de vida renovado no Domingo da Ressurreição, milhares e milhares de pessoas se encontram e celebram em preparação à festa para a Mãe. Todos os anos, no primeiro dia após o domingo de Páscoa, começa o oitavário que se encerra na grande festa de Nossa Senhora da Penha. Uma semana inteirinha de cantos e orações no lugar sagrado, entre pedras, árvores e a bela visão de águas que proporcionam o prazer de respirar e contemplar a Vila. Lugar do bom encontro que prima pela beleza, conservando e oferecendo ar puro e alegria. Toda essa movimentação remete-me à história – o nascer desse lugar onde vivo e no que dele sou parte – comparte no viver, desde que aqui cheguei.
Conta a história que foi num domingo, dia em que a fé católica festeja pentecostes… 23 de maio do longínquo ano de 1535, e eis que aos pés da montanha verdejante, nascia a primeira filha do Espírito Santo, que se prepara para os festejos de seus 476 anos. Cidade com seus encantos e desencantos, abriga-me desde os anos de 1970, quando aqui cheguei pelas mãos de meus pais, vinda do interior das Minas Gerais, lugar de terra rocha (ou vermelha) sei lá, e de muita pobreza para a grande maioria de seus habitantes. Das lembranças que tenho, sei que meus pais juntaram os filhos e os filhos e de lá saíram, rumo à cidade promessa de dias melhores.
Perplexos e extasiados com o lugar de ventos e expressões diferentes – em que se “pocava” a pipoca na panela – avistávamos a imensidão de água, ao longe de nossa casa, visão que nos seduzia , apontando como seta que ali havia beleza no encontro com sua majestade, o Mar. Suas princesas, aos poucos, foram se apresentando à vontade de se fazerem conhecidas pelos mineiros recém-chegados. Praia da Costa, menina dos olhos dos moradores, Itapuã, que até hoje agrega lazer e labor no ofício dos pescadores, Itaparica, a princesa mais badalada da orla, Barra do Jucu, que recebe as garças no final da tarde, a Praia da Barrinha, que faz a alegria para o esporte que reúne os surfistas, e mais praias para o deleite na cidade verão que dura o ano inteiro. Um lugar bonito mas que, também, tem seus problemas. Hoje, para desespero dos canelas verdes, o que mais assusta são os constantes alagamentos que afetam, dos bairros periféricos aos bairros nobres, chegando a confinar pessoas em suas residências, impedindo o cidadão de exercer o seu sagrado direito de ir e vir: instala-se o caos enquanto cai a chuva.
E a vida segue: segue seu rumo. Para não fugir à tradição religiosa, a devoção marca presença. Puxada do Mastro, Congadas, e gente, muita gente vinda de todos os cantos do Brasil para a Festa. Festa que inclui na sua programação, o encontro de milhares de homens que, desde 1958, fazem, sob o manto da fé, a tradicional Romaria dos Homens: uma longa caminhada que começa na capital Vitória e percorre os caminhos que levam à montanha. Montanha sagrada, ornada por densa floresta. Soberana montanha no alto de seus 154m de altura. Generosa montanha, anfitriã da padroeira do Estado, Nossa Senhora da Penha – a conhecida Nossa Senhora das Alegrias – A montanha que traz no seu topo o Convento da Penha, a escolhida montanha que testemunhou o começo do que hoje é : Vila Velha, oficialmente, a filha mais velha do Estado do Espírito Santo.
Hoje, a Romaria dos Homens já não é exclusiva de homens. Mulheres e crianças se juntam aos homens e seguem em procissão, saindo da Catedral de Vitória, com destino ao Convento da Penha em Vila Velha.

Obs: Imagem enviada pela autora: imagem de Andra Valadares publicado no fotoblog uol.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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