E´ preciso refazer o conceito de desenvolvimento. Tempo atrás a questão era pacífica. A proposta se impunha como evidente. Tratava-se de promover o desenvolvimento, e ponto. Ninguém questionava as circunstâncias, nem as condições requeridas. Nem se duvidava do conceito, que parecia unívoco. Sendo desenvolvimento, era bom, necessário e inclusive indispensável para a sociedade acessar outros valores importantes.
O auge deste consenso em torno da urgência e da necessidade do desenvolvimento pode ser colocado na década de sessenta, no século passado, em plena euforia da reconstrução da Europa após o desastre da segunda guerra mundial. Mais precisamente, o ano de 1967, quando Paulo VI publicou a famosa encíclica sobre “O Desenvolvimento dos povos” a “Populorum Progressio”. Em latim, a palavra “progressio” difere da palavra “progressus”. Esta última expressa um conceito mais restrito, de “progresso”, de “crescimento”, ao passo que a palavra “progressio” expressa o conceito mais complexo, de “desenvolvimento”, de transformação ampla, de novo patamar da sociedade.
Foi nesta encíclica que o Papa resumiu a importância do desenvolvimento, afirmando que “o desenvolvimento é o novo nome da paz”.
Pois bem, com a crise do petróleo em 1970, que levou ao impasse do endividamento dos “países em desenvolvimento”, o conceito começou a ser questionado, e passou a exigir a integração de outras dimensões, além do mero crescimento ou do simples “progresso”.
O primeiro questionamento foi de ordem social. O desenvolvimento não poderia agravar as desigualdades já existentes. Ele devia ser “inclusivo”. Todos deveriam participar do bolo.
Portanto, se questionava a dimensão meramente econômica do desenvolvimento. Mas se achava que a dimensão social era uma concessão, a ser feita para evitar tensões maiores, que poderiam eventualmente complicar ainda mais o jogo de interesses da sociedade. A dimensão social ainda era vista como um estorvo, um empecilho, uma concessão. Ainda não era vista como um fator de garantia e de sustentação do verdadeiro desenvolvimento.
Depois começou a emergir com força a dimensão ecológica. O desenvolvimento precisava levar em conta a escassez de recursos, evitar o desperdício, e não comprometer o equilíbrio ambiental. Aqui também, a preservação ambiental vista ainda como um freio ao desenvolvimento, como uma fatalidade a ser contornada. Não como um fator positivo de garantia de autenticidade de um verdadeiro desenvolvimento humano, econômico e social.
Estamos finalmente chegando a um novo conceito de desenvolvimento, que não só tolera as três dimensões, mas as considera como fatores positivos que se apóiam mutuamente. Quanto mais uma economia é pensada e realizada em vista da participação de todos, mais sólida ela se torna. E quanto mais respeita o meio ambiente, mais segurança ela tem de contar com bases firmes de sustentação.
O Brasil deu uma boa demonstração desta verdade. Foi repartindo o bolo, que ele cresceu. E daria para dar outros exemplos. E´ preservando as abelhas que elas podem fecundar melhor as flores, e garantir o sucesso das safras.
As três dimensões são do interesse de todos. A palavra “sustentável” é a que melhor qualifica este conceito novo de desenvolvimento. Mas a Ministra do Meio Ambiente flagrou bem o problema. Quem deve carregar a bandeira da sustentabilidade não é só o Meio Ambiente. Disse ela que “está na hora do desenvolvimento sustentável sair do gueto do Meio Ambiente, para ser assumido por todos os Ministérios”, como uma causa que interessa a todos. Quanto mais partilhada, mais sólida se torna a economia. E quanto mais ela respeitar a natureza, mais segurança ela terá de sua perenidade.
De novo se comprova que nosso desafio é integrar dimensões que parecem contraditórias, mas na verdade são complementares.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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