Padre Beto 29 de maio de 2011

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Uma lenda árabe conta que um jovem rapaz e uma moça andavam por caminhos diferentes. Em um determinado trecho, os dois caminhos se cruzavam, o que provocou o encontro dos jovens. Após uma pequena apresentação, os dois resolveram, a partir daquele momento, caminhar juntos. Depois de algum tempo, avistaram uma alta montanha. Para atravessá-la, os viajantes deveriam passar por um túnel. A moça parou à entrada do túnel e disse ao rapaz: “Eu não entrarei com você neste túnel!” “Por que não?”, perguntou o jovem. “Você poderia me abraçar e dar um beijo!”, respondeu a moça. “Como eu poderia fazer isso?”, tentou se defender o jovem, “eu tenho uma mochila nas costas, meu cajado em uma das mãos e na outra minha ovelha!” Mas a moça continuou a manter sua opinião: “Você poderia me pedir para segurar a ovelha, fincar o cajado no chão e jogar a mochila em um canto e então estaria livre para, por exemplo, me beijar”. O jovem olhou a moça, com admiração, durante um determinado tempo e finalmente disse: “Que Deus abençoe sua sabedoria!” Logo em seguida os dois entraram no túnel!

Para John Locke o conhecimento surge da experiência. Tudo que a mente do ser humano apreende ou percebe das coisas que o rodeiam são impressões que constroem e modificam a nossa visão de mundo. Percepções da realidade e conclusões sobre esta compõem nosso conteúdo intelectual. Porém, a compreensão dos objetos e situações de nosso universo não é assimilada de forma direta e imediata, mas está sempre condicionada à maneira como vemos o mundo. Nossa compreensão da realidade é permeada de idéias que surgem de nossas experiências particulares, de uma interação muito própria com a realidade. Portanto, nosso conhecimento da realidade não é simplesmente construído através do contato com ela, mas pela forma como vivenciamos este contato. Assim, pessoas diferentes e em momentos diferentes de sua vida poderão ter contatos com uma única realidade e retirar dela conteúdos diversos. Ao assistirmos um filme possuímos uma determinada impressão e retiramos dele uma determinada mensagem. Ao assistirmos o mesmo filme depois de alguns anos, poderemos nos surpreender com reflexões que não eram para nós possíveis na primeira experiência com o filme. O conhecimento da realidade depende da forma como podemos perceber o mundo e esta possui limitações e condicionamentos que influenciam nossa percepção e compreensão: o conteúdo intelectual que possuímos, o momento emocional em que vivemos, as nossas condições físicas, preocupações e compromissos para o amanha, etc.

A nossa compreensão sobre a realidade é sempre influenciada por fatores que a ampliam ou a limitam. A amplitude ou limitação do conhecimento sobre as coisas está sempre relacionada com o poder de ver e sentir o conteúdo do momento presente. Os nossos horizontes, porém, são ampliados não somente pelas novas experiências que fazemos, mas também à medida que compartilhamos nossas idéias com outras pessoas. Cada encontro com outros seres humanos é, portanto, uma troca de visões diferentes da realidade. A vida social nos oferece a oportunidade do diálogo, do momento, muitas vezes conflitivo, de confrontação com formas diferentes de compreensão do mundo. O diálogo permite ampliar nossa compreensão da realidade, pois podemos vê-la e senti-la através da ótica de outras pessoas. Um simples bate-papo com os amigos em um barzinho, uma conversa no almoço com a família, comentários na fila do banco e principalmente a leitura de livros podem se tornar verdadeiros espaços de descoberta da realidade; basta estarmos abertos para transmitir nossas idéias e recebermos as dos outros. Como diz um velho ditado: “Deus não aceita quem se sente feliz indo sozinho para o céu”.

 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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