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([email protected])Um dos problemas mais importantes e urgentes do mundo atual é preservar e salvar a biodiversidade. É tão importante que a ONU consagra o 22 de maio como “dia internacional de defesa da biodiversidade”. Durante esta semana, várias conferências internacionais tratarão deste assunto. Cientistas de todo o mundo chamam a atenção para o fato de que o Universo está em contínua evolução e tende a alcançar estados cada vez mais organizados. Neste processo, se torna mais evidente a imensa diversidade de formas de vida e, ao mesmo tempo, a profunda relação que existe entre tudo. Nenhuma espécie é auto-suficiente. Todas são interdependentes. Além da unidade que existe entre as grandes redes de seres vivos, também existe uma relação entre as formas vivas e as não vivas. Oceanos, atmosfera, composição dos solos, temperatura, tudo isso está relacionado como um grande tecido que faz da Terra um planeta excepcional e que parece um organismo com vida própria. Em cada local, os seres vivos interagem um com o outro e formam um eco-sistema. Sua sobrevivência depende da biodiversidade. Ela é ameaçada pela ação humana que destrói os biomas com o único fim da exploração e do lucro.

No próximo ano, em maio, o Brasil estará sediando a Conferência Mundial Ecológica Rio 20 anos depois. Esperamos que neste ano de preparação, o Congresso não aprove alterações no novo Código Florestal que privilegia o capitalismo depredador e diminui ainda mais as áreas verdes e preservadas em nosso país. Há razões para que todos se preocupem com a segurança alimentar da humanidade que de fato está em risco. Não porque a área agrícola tenha diminuído, ou porque os agricultores não possam plantar. Ao contrário, nunca se produziu tanta comida. É a distribuição injusta e a política de preços que provocam a miséria e a fome. Também a concentração da propriedade agrícola é, no Brasil, inimiga da justiça social e ecológica. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ainda hoje, 2, 8% das propriedades rurais são latifúndios que dominam mais da metade da extensão do território agricultável do país, ou seja, 56% das terras agrícolas brasileiras (Cf. Caros Amigos, março 2011, p. 33). Em uma realidade como esta, como salvar a biodiversidade das florestas, dos campos, do cerrado e das bacias hidrográficas?

De acordo com o cientista ecoteólogo Thomas Berry, a natureza é uma realidade tanto física quanto psíquica e tem três leis que ajudam a compreendê-la melhor: a diferenciação, a subjetividade e a comunhão.

A diferenciação das espécies pede da humanidade um respeito à diversidade que pede formas específicas de tratar cada sistema. As antigas tradições espirituais ensinam as pessoas a conversar com as árvores, a compreender a linguagem dos pássaros e a se relacionar com os animais como seres vivos e nossos irmãos na natureza. Do mesmo modo, os ritos de veneração da Mãe Terra e da Água nos tornam mais humanos e nos lembram a cada momento que fazemos parte desta grande comunidade da vida. Neste contexto, a subjetividade não é sinônimo de interioridade. Significa a dimensão que a natureza tem de ser sujeito e não objeto. Ela tem direitos e comporta cuidados próprios. A comunhão é o vínculo misterioso, mas muito real que liga todos os seres e atualiza permanentemente uma forte interdependência.

Há quem pense que o ser humano precisa da natureza, enquanto esta não necessita do homem. A ecologia profunda prefere pensar que todos precisamos de todos e a Bíblia insiste na função humana de jardineiro e intérprete do cuidado divino a zelar com amor e ternura por cada ser vivo e pelo conjunto da biodiversidade no planeta.

(*) Monge beneditino, teólogo e escritor.

 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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