A celebração da Páscoa tem ressonâncias muito antigas. A própria data é indicada pelo calendário lunar dos judeus, que determinava a Páscoa para o primeiro sábado após a lua cheia do mês de “nisan”, que corresponde, aproximadamente, ao nosso mês de abril. No caso deste ano, a lua cheia caindo no domingo dia 17, a páscoa fica para o sábado dia 23.
A Campanha da Fraternidade sobre a vida no planeta evoca o contexto que deu origem à celebração pascal. Os primeiros ritos pascais eram ligados à celebração da vitória da vida sobre a morte, expressa pela exuberância da primavera, em que a vida retoma vigor, após os rigores do inverno que parecem sufocá-la.
A páscoa recebeu depois uma conotação histórica bem definida, com a saída do povo hebreu do Egito. Ela foi claramente marcada pelo contexto pascal. A partir daí, o povo hebreu assumiu a páscoa como expressão de sua identidade, e como recordação de sua passagem da escravidão para a liberdade.
Como sabemos, neste contexto histórico Jesus inseriu a celebração de sua memória, integrando ao mesmo o rito antigo da festa judaica no novo significado que a páscoa passava a ter, a partir de sua morte e ressurreição.
Cabe aos cristãos recolherem este significado profundo, que é inesgotável na sua potencialidade de inserir no mistério pascal de Cristo todas as dimensões da vida humana.
Mas o contexto da Campanha da Fraternidade deste ano nos sugere a integração fecunda que é possível fazer, das três dimensões da páscoa. A começar pela dimensão cósmica, que foi acentuada pelas reflexões feitas em torno da vida em nosso planeta.
Somos chamados a cultivar uma espiritualidade que poderíamos chamar de ecológica, captando as mensagens que o universo nos transmite, com sua maravilhosa harmonia.
De fato, a Campanha nos ajudou a perceber a estreita ligação de nossa vida humana com a natureza. Ela não se limita a garantir o ambiente favorável à nossa existência. Somos parte da natureza. Em decorrência disto, podemos identificar nossa situação privilegiada, que nos permite situar-nos com perspectivas transcendentes à natureza, e assumir conscientemente nossa condição humana.
O gesto de Cristo, de moldurar seu testamento no contexto da celebração histórica da páscoa judaica, nos dá um profundo ensinamento, de quanto é importante colocar-nos na dinâmica da história humana, se queremos inserir-nos dentro dela, e fazer parte da trajetória verdadeira da epopéia humana.
Assim fica claro o recado da páscoa deste ano. Ela nos convida a sermos pessoas integradas, seja no contexto da natureza, como na trama da história, e também na coerência da fé que abraçamos.

 

As três dimensões são indispensáveis, e se fortalecem mutuamente. Cabe a cada pessoa escolher as motivações que melhor podem acionar a integração das diferentes dimensões.
Mas é inegável que a figura de Cristo serve de exemplo perfeito de integração vital. Mais que ninguém, sabia captar os encantos da natureza, de onde tirava suas belas parábolas. Ele conhecia profundamente a história do seu povo, e sabia expressar o significado dos seus episódios. E sobretudo, soube dar um significado novo aos ritos antigos, colocando neles os símbolos da entrega de sua vida por amor a toda a humanidade.
A páscoa é um convite para a integração de nossa vida no grande concerto do universo, na caminhada da história humana, e no testamento sempre renovado do mistério de Cristo.
MENSAGEM DE PÁSCOA 2011
“Não tenhais medo… Ele ressuscitou!” (Mt 28, 5)
A todos os Diocesanos,
Feliz Páscoa!
Com alívio e alegria, chegamos à Páscoa deste ano de 2011. Venho desejar que todos a celebrem com intensidade.
Desta vez, podemos de novo comprovar quanto é fundamental o Mistério Pascal de Cristo, à luz do qual é possível situar a vida humana com todos os acontecimentos que nos envolvem.
Com a presença de Cristo ressuscitado, espantamos o medo, e nos alegramos com sua vitória sobre o sofrimento e a morte.
Neste ano foram muitos os fatos que nos assustaram por suas trágicas conseqüências., a começar pelos fenômenos da natureza, que vieram comprovar as recomendações da Campanha da Fraternidade, de cuidar com amor da criação que Deus confiou às nossas mãos.
Mas a persistência de tragédias humanas, marcadas pela violência e pela banalização da vida, mostra quanto é urgente recuperar valores que possibilitem a convivência justa e pacífica entre todas as pessoas.
Esta é uma Páscoa para ser celebrada com prontidão de espírito e disposição de ânimo.
Ajudados pela Campanha da Fraternidade sobre a vida no planeta, podemos recuperar melhor as três dimensões históricas da Páscoa.
Ela começou como celebração da vitória natural da vida terrena, que se recupera a cada primavera.
Assumiu depois forma histórica, com a libertação do povo hebreu da escravidão no Egito, nos garantindo que a intervenção de Deus na humanidade pode ser comprovada por todos os que buscam os sinais de sua presença.
E finalmente a Páscoa se completou com o Mistério Pascal de Cristo, que na sua profundidade acolhe toda a nossa vida, com a certeza da ressurreição.
Celebremos, pois, a Páscoa de Cristo, e caminhemos neste ano à luz de sua ressurreição.
Com os renovados votos de Feliz Páscoa,
D. Demétrio Valentini
Bispo Diocesano de Jales
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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