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Registra a história oficial do Brasil, como se fosse verdade, que a escravidão teria sido abolida em 1877. Fizeram da princesa uma heroína dos escravos. Nem foi verdade na época o heroismo dela, como não é ainda hoje. No tempo da princesa os ex escravos ficaram em situação pior, porque por não serem mais escravos não tinham nada de próprio, nem mais a comida que o senhor lhe fornecia antes. Maioria preferiu continuar nas propriedades do senhor, trocando sua força física no trabalho, em troca apenas do alimento.

Hoje, 134 anos depois, pode se dizer que não há mais escravidão no Brasil? Não adianta fantasiar. Nos últimos 10 anos, a força tarefa do Ministério do Trabalho libertou literalmente 17 mil 456 pessoas que viviam em regime de escravidão em fazendas e empresas. Quantas outras continuam escravizadas não se tem conta. A falta de consciência de muitos senhores donos de empresas e fazendas prolonga hoje este crime hediondo na 8ª economia mais rica do planeta. Aqui mesmo na região Oeste do Pará, empresas que exploram trabalhadores sem assinar carteira, sem pagar salário equivalente, sem garantir dia de descanso, sem férias e sem indenização na hora de despachar, continuam o trabalho escravo.

E é mais grave a humilhação humana, que muitos libertos da condição de escravidão pela força tarefa, depois querem voltar ao senhor explorador, porque como no tempo da princesa, não têm nada na vida, apenas a força física e família para dar de comer. A força tarefa de libertação hoje se vê fazendo um trabalho heróico, mas ineficaz. Disse um procurador geral do trabalho que “não basta apenas resgatar essas pessoas e conceder-lhes algumas parcelas do seguro desemprego. Isso não impede que eles voltem ao trabalho escravo, por falta de melhores oportunidades. É preciso o Estado garantir qualificação profissional para eles terem uma renda própria.”

Mas como fazer isto se o Estado se conforma em garantir uma bolsa família de migalhas e canta vitória porque obrigou deputados e senadores a aprovar um salário mínimo de 545 reais? Mesmo com discurso de acabar com amiséria nbo país a presidenta, na prática silencia diante do cinismo dos deputados que se aumentaram salários em 60% e ela se recusa a aumentar 15 reais no salário mínimo deste ano. O próprio Estado estimula o trabalho escravo, quando privilegia os mais ricos e despreza os mais pobres.

* Pároco diocesano e coordenador da Rádio Rural AM de Santarém.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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