Diante da catástrofe ambiental que, nestes dias, se abateu sobre o Japão e, guardadas as proporções, quanto acompanhamos o sofrimento dos nossos irmãos e irmãs, vítimas das inundações em várias regiões brasileiras, só nos cabe ser solidários e nos unir para evitar ainda mais sofrimentos. Deus é Amor e o seu projeto é de vida e felicidade para todos os seres vivos. Quem crê nisso jamais aceitará interpretações que vêem estas calamidades como castigo divino. Nada de pensar em fim de mundo. A Terra sempre viveu etapas de crises e convulsões geológicas. Há bilhões de anos, houve uma época de gelo. Há 600 milhões de anos, os dinossauros e grandes répteis desapareceram do planeta em uma convulsão geológica. Outras mudanças ocorreram antes e depois. Onde em outras eras existia um vulcão, hoje é uma região turística de águas quentes, no sul de Goiás. No sertão da Paraíba, a mais de mil quilômetros do oceano, se encontram fósseis de peixes marítimos e sinais de que ali, um tempo, já foi mar.
Atualmente, há quem interprete os tempos atuais como uma nova época de mudanças geológicas. Embora sempre tenham ocorrido terremotos, tsunamis, inundações e secas, nos últimos anos, têm sido mais freqüentes e com mais intensidade. Desta vez, a humanidade tem sido ao menos corresponsável por estes desequilíbrios ecológicos. No Japão, país rico e organizado, a sociedade se considerava preparada para enfrentar terremotos. Mesmo assim, não conseguiu escapar de um tsunami terrível. E pior do que o terremoto e o tsunami, é o risco de contaminação nuclear, provocado pelo aumento do índice de radiação depois dos incêndios em dois reatores nucleares. Diante do que ocorreu no Japão, vários países estão revendo sua política com relação à energia nuclear.
No Brasil, temos usinas nucleares em Angra dos Reis. O governo tem projetos para construir outras, inclusive na Amazônia e no Nordeste, regiões sujeitas a inundações e desequilíbrios naturais. Ao ver o que ocorria no Japão, técnicos brasileiros juram que nossas usinas têm dois sistemas de refrigeração. Se um falhar, imediatamente o outro entra em funcionamento. Apesar disso, várias vezes, a população da região de Angra dos Reis tem sido treinada para reagir diante de qualquer problema.
Não existe segurança total. Até aqui, a maioria da energia utilizada no mundo vem de fontes fósseis (petróleo, gás natural, etc) e gera emissões de poluentes, gases de efeito estufa, além de que, um dia, se esgotarão. É preciso estimular o uso de energias renováveis (solar, eólica, de biomassa, etc). O Brasil tem clima e condições favoráveis para isso. Infelizmente, não existe energia que só tenha vantagens. Um país pobre deve colocar como prioridade garantir uma agricultura que produza comida para o povo e não, prioritariamente, combustível para veículos. Sem falar na destruição das florestas que a produção de etanol pode causar. Entretanto, de todos os tipos de energia, a nuclear é a mais perigosa, tanto pelo poder de destruição, quanto pelos riscos para a saúde da humanidade e da natureza. Sem falar no que significa em termos econômicos. Uma usina nuclear nunca sai por menos de dez bilhões de reais. Na maioria das vezes, na execução do projeto, este orçamento é ultrapassado. Vários estados brasileiros já usam energia eólica e com sucesso. Em Fernando de Noronha, parece que pararam um dos moinhos geradores porque sua hélice matava pássaros. A ilha é um reduto onde as aves aninham e se reproduzem. Este incidente chama a atenção para um problema: não se trata apenas de escolher o tipo de energia. A melhor energia é a não utilizada. Temos de mudar o nosso modo de vida e o padrão civilizatório em que vivemos. A “Carta da Terra”, documento aprovado pela UNESCO e a ser votado pela ONU, como declaração dos direitos da Terra, afirma em sua conclusão: “Como nunca antes, o destino comum nos conclama a buscar um novo começo. (…) Isto requer uma mudança na mente e no coração; novo sentido de interdependência e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver e aplicar a visão de um modo de vida sustentável aos níveis local, nacional, regional e global. Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa, e diferentes culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de realizar esta visão”. (…) “Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida, pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação da luta pela justiça e pela paz, e a alegre celebração da vida”.
(*) Monge beneditino, teólogo e escritor.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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