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Muitos de nós que tivemos o privilégio de estudar com D. Erundina, sabemos quão excelente professora ela foi. Fazia o que amava, logo da melhor forma. Sempre digo: todos os que passaram por suas mãos renderam, venceram na vida.

No inicio do ano letivo de 1955, a escolinha não estava pronta ainda. D. Dalva a minha primeira professora dava aula, lá em cima, na casa onde morou inicialmente, “seu” Manuel Luiz, o chamávamos, compadre Manuel Luiz, pois era padrinho de Sanclair, meu irmão caçula, e mamãe madrinha de Maria Augusta sua primeira filha, de Socorrinho, Marne, Betânia e acho que de Expedito também, seus filhos. “Seu” Eugênio Wanderley, grande amigo de papai e por último, antes de saímos de São Bento, “Seu” Pedro Vieira, compadre Pedro, como sempre o chamamos, pois Maria Luiza, sua filha, é afilhada de mamãe.

Fiz com D. Erundina o curso primário, hoje fundamental, muito bom. Lembro das sabatinas de tabuada e verbo, até hoje não faço vergonha nestes dois itens. Tinha um “flip Chart” onde D. Erundina colocava cenas do dia a dia, para que fizéssemos descrição, para daí começarmos a fazer redação, pois no exame de admissão iríamos ter redação na prova de português.

Lembro até hoje de uma história que D. Erundina leu para nós, em um daqueles dias chuvosos, quando tínhamos que ficar dentro da sala de aula. Lá fora o receio seria impossível. A história intitulada TIQUINHO DE CARVÃO, dos Irmãos Grimm, foi tirada da coleção O Mundo da Criança.Pois D. Erundina tinha um material didático muito rico. Nunca mais a esqueci. A uns três anos fiz um curso de Contador de História, na Fundação Gilberto Freire e foi-nos dada a tarefa de trazer impressa uma história infantil que havia nos marcado, trouxe Tiquinho de Carvão e por coincidência, outra colega também. Achei muito engraçado, pois não é das histórias infantis famosas, tradicionais. Quando falo da minha professora do primário, comento que D. Erundina era uma profissional extremamente qualificada, para a sua época. Estudei com D. Erundina de maio de 1955, quando foi inaugurada a escolinha, até outubro de 1962, quando saí para fazer o exame de admissão em Moreno, no colégio das freiras, cidade onde nasci. Assim era chamada a nossa escola primária. A escola grande, era onde se ministrava o ginásio e o curso de técnico agrícola. A Escolinha, serviu de palco para as nossas brincadeiras, nos fins de tarde e nas férias, pois morávamos em frente.

D. Erundina puxava por nós, estimulava-nos a sermos sempre os melhores. Na nossa sala tinha um jardinzinho, que cuidávamos, o filtro de barro, dentro da nossa sala, nós lavávamos, era tarefa de confiança. Era sempre destacada uma dupla, diariamente, para ir a sua casa, buscar o leite, do Programa, Aliança para o Progresso, que era servido no receio. Todas as tarefas eram partilhadas por todos. Tinha também o dia de lavarmos as bancas da escola, não lembro bem o período, mas acho que era no início do ano, antes de começarem as aulas. Na nossa turma éramos umas 10 meninas e dois meninos: Leonardo filho de “seu” Joãozinho da cozinha e Oscar filho de professor Santa Cruz. D. Erundina era tão cuidadosa que nos dava aula de formação, no dia das meninas os meninos saíam mais cedo e vice-versa.

Quem não conheceu, o grande professor de matemática? Muitas vezes temido, porém sempre admirado. Sei de uma proeza sua. Encontrei em um supermercado, perto lá de casa em Olinda, dois, já senhores, ex- alunos seus, um engenheiro eletricista, ex-funcionário da CHESF, aposentado e o outro ex-funcionário do extinto BANDEPE e do IPA, aposentando também. Um deles eu lembrava de quando estudou em São Bento, se não me engano seu nome é José Luiz Albuquerque, é filho de Arcoverde, o outro não gravei o nome. É claro, não lembravam de mim. Todavia lembravam de papai, com saudade. Mas o primeiro nos contou que certo dia em uma prova de matemática não conseguiu tirar o nove ou dez de praxe. Na hora dos comentários das provas, professor Santa Cruz o chamou lá na frente e perguntou o que estava acontecendo, pois a sua nota, não tinha sido boa, como sempre? O rapaz meio encabulado disse-lhe: que estava com problemas em casa, então professor Santa Cruz submeteu a idéia que teve, de lhe dar uma nova chance, os colegas foram unânimes em concordar e naquele mesmo momento fez uma prova oral com o rapaz e este obteve a nota máxima, o dez costumeiro. São Bento sempre nos remete a lindas e boas histórias.

Tenho certeza, muitos dos que estão aqui presente também tem as suas ricas e lindas histórias, da nossa querida e saudosa professora, D. Erundina, e de São Bento, que são indissociáveis. O nosso inesquecível “SANGRILÁ” . Em 1991, fiz um curso de inglês no Conselho Britânico, lá em Boa Viagem. Um dia recebemos a incumbência de que contar uma história sobre a infância, então falei sobre a nossa em São Bento, os colegas ficaram encantados e todos queriam que eu organizasse um passeio para lá, pois queriam ir conhecer.

Falar em D. Erundina nos faz lembrar do seu amado, “seu” Juvino, amigo particular de papai. Nosso vizinho, moramos parede de meia, naquela casa intitulada “SUBESTAÇÃO ESPERIMENTAL DE CANA”. Disponível, prestativo, no meu primeiro ano de faculdade, “seu” Juvino vinha nos trazer todos os dias para a faculdade em Recife, Laura, sua filha, minha querida amiga de infância e eu. Passamos um ano nesta peleja, no ano seguinte em fevereiro nos mudamos para Recife, precisamente, 11/02/1971. Laura sempre disponível também, nos acompanhou na mudança e foi uma mão na roda nos ajudando a arrumar a casa, chegamos de manhã, no fim da tarde já estava tudo nos seus devidos lugares.

Faço-me presente através destas palavras, pois me encontro agora em Salvador, cuidados dos assuntos burocráticos, que dizem respeito a Sebastião Heber, meu irmão mais velho, padre e também professor, que foi chamado a casa do pai, na viTrada do ano, zero hora de 01/01/2011. Acho que Deus vai criar uma escola nova, pois ultimamente tem chegado bons professores por lá.

Laura, Guga, Sulinha, que Deus lhes dê força e fé para superar mais uma perda.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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