Na semana passada celebramos São Paulo, o apóstolo que está na origem da grande cidade, agora capital do Estado que também leva este nome.
A sabedoria intuitiva da liturgia, quando a Igreja fala de Paulo, lembra também Pedro. E quando fala de Pedro, lembra Paulo. Os dois eram de temperamento bem diferente, e de origem social bem diversa. Mas souberam compor bem suas diferenças, colocando-as a serviço da Igreja.
Logo em seguida à festa de São Paulo, a liturgia, pedagogicamente, coloca duas outras figuras, desta vez em sequência à obra de Paulo. Trata-se de Tito e Timóteo, dois discípulos de Paulo, chamados pessoalmente por ele, no início para acompanhá-lo em suas andanças, e depois para colocá-los à frente das comunidades fundadas por Paulo.
Ele estava com isto inaugurando a praxe da assim chamada “sucessão apostólica”. A Igreja, na sequência das gerações, seria governada por pessoas claramente vinculadas à ação dos doze apóstolos, em continuidade da missão deles. De tal modo que, para sempre, a Igreja levaria a marca dos doze apóstolos. Ela seria, para sempre, “apostólica”, como confirma o credo que a Igreja passou a usar desde os primeiros séculos. “Creio na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica”.
Na recente reforma litúrgica, a Igreja colocou logo após a festa da conversão de São Paulo o dia dedicado a Tito e a Timóteo.
Até pouco tempo atrás, a festa de São Tito era no dia 06 de fevereiro. Ficou melhor juntar os dois, Tito e Timóteo, e colocá-los em seguida à festa de São Paulo.
No início do seu apostolado, Paulo teve Barnabé como seu protetor e companheiro de viagem. Esta parceria apostólica não durou muito. Podemos imaginar como era difícil seguir o ritmo de Paulo, com as dificuldades do seu temperamento. Embora sejam dezenas os nomes de pessoas envolvidas na missão de Paulo, e que são citadas em suas cartas.
Mas percebe-se que especialmente com Timóteo e Tito, Paulo demonstra sua preocupação em ter continuadores de sua obra e de seu apostolado. Escolheu a ambos quando ainda jovens, os atraiu pela força do seu testemunho, e os incumbiu depois de cuidarem das comunidades como “supervisores”, como “epíscopos”. Estava se desenhando neles a praxe da Igreja, de contar com novas pessoas, que continuassem a mesma missão dos doze apóstolos. De tal modo que na medida que iam morrendo, outros assumiram seus postos.
Foi assim que a Igreja de Cristo foi tomando forma, com a garantia do testemunho apostólico, que iria se perpetuar pelos tempos afora. De tal modo que a “apostolicidade” da Igreja seria uma de suas características indispensáveis.
O cuidado com a sequência histórica, como sinal de garantia e de autenticidade, é muito importante em nosso tempo, quando existem tantas interrogações sobre a verdadeira identidade que a Igreja de Cristo precisa assumir.
Nunca é demais termos como critério o fato de que a Igreja é fruto da ação de Cristo, e necessita sempre se reportar aos seus inícios para ter segurança dos novos passos que ela precisa dar, na incumbência inalienável que ela recebeu, de acompanhar a humanidade até o fim dos tempos.