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Perdeu o rumo depois que ele foi embora. Perdeu o chão… A casa ficou vazia. O silêncio, o tic-tac do relógio da sala, o latido do cão da vizinha tornaram-se insuportáveis. Insuportáveis como as brigas, como as pequenas discussões por isso ou por aquilo fora do lugar, que quase sempre terminavam com um na cama e outro no sofá. Chegaram ao limite da tolerância. Ela não escondia que nos momentos de tensão tinha vontade de arranhá-lo por inteiro, mas era frágil com seu 1,63 e pouco mais de 56 kg. Tentava entender como alguém conseguia ser tão irritante, cínico e passional. Como uma pessoa conseguia agregar aquilo tudo e viver em paz consigo própria? Ficava sem resposta.
Cogitaram a separação, mas das outras vezes voltaram pouco tempo depois, cada um vendendo a falsa promessa de que seriam melhores, de que as coisas dali pra frente seriam diferentes. A verdade se revelava menos de dois meses depois. De volta a rotina viviam debaixo do mesmo teto pelo comodismo. Porque sabiam a atitude que um o outro teria diante de cada situação. Às vezes viviam dias de paz com um “oi” e “tchau” ao sair. Mesmo com o recesso, não tardou para que “outros” entrassem pelas brechas daquela relação.
Ele cogitou abandonar tudo quando conheceu aquela moça faceira, super-gente-fina, que falava de novela, sabia a última fofoca e que acima de tudo tinha um corpo escultural, farto, bem diferente da mulher. Não fez questão de esconder o quanto estava feliz e que algo havia mudado. Ficou até mais gentil e prestativo. Ela estranhou, mas deixou passar “melhor daquele jeito do que brigando”. E viveram assim. Ele foi ficando distante. Quando estava com ela parecia em outro lugar; perdido, talvez pensando na amante. Vieram às voltas pela madrugada. As viagens e ela foi se sentindo mais sozinha. Sabia que aquilo já não era mais um relacionamento e que a cada dia nada lembrava o princípio, aquela paixão pungente.
Não tardou foi ela. Vieram os beijos e abraços escondidos no interior de um carro de vidro escuros daquele antigo namorado da escola. Das tórridas tardes com aquele colega da academia num flat alugado no centro quando dizia estar na reunião. Por um tempo se sentiu viva,mas logo veio o vazio e tudo aquilo passou a não fazer sentido. Ele parecia mais jovem e mais sorridente. Cessaram as brigas, abria caminho à amizade.
Veio a suspeita. A gravidez de dois meses. Até refizeram os planos. Ele deixou a moça faceira e elas os relacionamentos casuais. Foi tudo momentâneo. O destino pregou uma peça numa tarde quando voltavam de um passeio da praia. A relação estremeceu. Ela chorou e sofreu sozinha. Ele também. Foi cada um para o seu lado. Ele levou o carro. Ela ficou com a casa. Sem pensão. Dividiram os móveis. Sem briga, sem ressentimento.
Ele casou de novo. Ela foi para Paris. Nada com um recomeço…
Obs: Imagem enviada pela autora.( Foto: www.finalistasarnoso.blogspot.com)