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Meninos se espremem afoitos, alvoraçados, ruidosos nas grades do portão menor. Gritam. Chamam. Batem palmas. Impávidos pouco se importam com os latidos da cadela branca. Desponto na porta da frente sem entender o porquê daquele motim no meio da tarde quente.
Corbis
Apontam para o corredor lateral. Lá no fim vejo a pipa amarela e verde pendurada sobre o muro, na divisão com o telhado da vizinha. O movimento os deixa mais eufóricos.Viro tia, recebo apelos e elogios (assim como a dona da casa, minha mãe). Vejo caras tristes, mãozinhas juntas em sinal de contrição tentado instigar minha pena com os pobres guris da Rua Natal.
Pego o papagaio numa manobra articulada com o cabo da vassoura de varrer quintal. Pulo. Tento mais uma vez e ele cai rodopiando no chão. Desvencilho das linhas afiadas, cheias de cerol é o estopim para o alvoroço no pátio. Parada na porta da sala peço para que a cachorra se cale. Estão elétricos. Ordeno que vão embora, pois o brinquedo agora é meu (não bem meu, mas de um garotinho que eu gosto). O menino loirinho que mora do lado surge imponente empurrando os outros garotos. Diz que a pipa é dele e esnobando os demais afirma que será o escolhido. Dá vontade de sorrir. Em vez disso mando todo mundo embora. Ainda me contemplam por alguns instantes. Logo estão de volta a rua, quebrando a tranqüilidade da quinta-feira.
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Uma pipa custa R$ 1. Sinceramente fiquei sem entender toda aquela algazarra montada pelos meninos. A justificativa mais óbvia veio nas palavras da mamãe … ‘meninos simples e sem dinheiro’.
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Ainda falando sobre pipas … quando pequeno meu irmão costumava sonhar que estava correndo atrás de uma, efeito das longas horas na rua olhando para o colorido lá no céu.
Benjamim Franklin não previa o destino de seu invento …
Obs: Imagens enviadas pela autora