De 31 de janeiro a 4 de fevereiro último, realizou-se no Centro de Estudos do Sumaré no Rio de Janeiro, o 20º Curso para Bispos, promovido por aquela arquidiocese. Os cerca de cem bispos presentes tivemos a oportunidade de ouvir pavorosos relatos de nossos dois irmãos, bispos de Nova Friburgo e Petrópolis, sobre o terrível desastre das recentes enchentes em suas dioceses, com a ação assistencial da Igreja, que a grande mídia nacional não divulgou. .
Com sua fúria destruidora, as águas de janeiro espalharam mortes, destruições, e muito, muito sofrimento, na linda terra serrana do Rio de Janeiro, famosa desde os tempos imperiais, como lugar de turismo e de férias. Os últimos dados apontavam para mais de 800 mortos e cerca de 20.000 desabrigados. A maior tragédia nacional, de que se tem conhecimento nos últimos anos. No ano passado, foram menos, 283 mortos e 11.000 desabrigados. Em 2008, em Santa Catarina, foram menos ainda; em 1987, também no Rio, foram menos que esse ano. No próximo ano provavelmente, por desgraça, serão mais. É o homem que destrói o seu planeta. Esse lindo planeta azul, perdido como um ponto no espaço imenso. Onde corria um rio, o homem fez uma rua asfaltada; onde passava um regato, o homem construiu um canal, que não suporta o crescimento das águas de verão; onde havia um belo morro coberto de vegetação virgem, o homem encarapitou algumas pobres casas de moradia..Casas construídas pela incúria governamental em lugares totalmente impróprios e com risco evidente de desabamento, ao primeiro temporal, um pouco mais forte que o habitual.
E que fazem os governos? Muito simples. Sobrevoam de helicóptero as áreas atingidas e está resolvido o problema. Voltam para seus gabinetes climatizados em Brasília ou no centro do Rio, tomam da caneta e decretam uma verba extra para atender (só agora…) os pobres flagelados das enchentes nos morros da região serrana fluminense. É claro que eles não vão sujar seus pés na lama descida da serra…
A metereologia previu a catástrofe. Uma corrente de ar úmido, vinda da Amazônia, provocara a formação de nuvens muito carregadas, até com 18 quilômetros de altura. Foram essas nuvens que despejaram toneladas de água no sudeste brasileiro em poucos dias. O fenômeno em si seria normal, não fosse a intensidade com que ocorreu. Os cientistas suspeitam que houve influência das mudanças climáticas do planeta, devido ao aquecimento global. O alarme dado pelos metereologistas não foi tomado a sério ou, pelo menos, não na urgência e amplitude que a situação exigia.
Em toda essa tristeza, houve uma coisa bonita: a solidariedade, na qual, graças a Deus, o brasileiro é campeão. Quanto material de ajuda enviado de todos os pontos do país, relatavam os bispos das duas cidades, quantos voluntários abnegados, vindos de toda parte, enfermeiros, médicos, militares! A Santa Sé, dando o exemplo, enviou substancial ajuda e os bispos do Brasil se movimentaram para enviar ajuda financeira às dioceses atingidas. Nossa Arquidiocese, até o fim de janeiro, havia arrecadado 130 mil reais, com possibilidade de aumento dessa cifra..
Cristo Redentor, do alto do Corcovado, abra seus braços de bênçãos sobre a sofrida terra fluminense.
(*) É arcebispo emérito de Maceió.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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