Djanira Silva 4 de janeiro de 2011

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Um novo dia, completo, completo mesmo: manhã, tarde, noite, tudo assim, assim, mesmo, remendado com ausências e saudades. Quando o sol me virou as costas, fiquei meio lá, meio cá, partida ao meio, dividida em duas cores – o claro- escuro da madrugada, o claro-escuro de minha alma que se recusa a apagar as lâmpadas do passado.
Já, já, chegará o tempo de abrir as cortinas, cortar a fita, inaugurar outras manhãs. Perco a paciência. Não podendo controlar meu descontrole, fujo para o sono. Morro tranquila nesta morte temporária. Desembarco num mundo onde nada se inventa, nada começa, nada termina. Nem anoitece, nem amanhece. Os dias se confundem com as noites e a realidade está fechada nos olhos. Gosto de curtir os enganos do pensamento: achar que vou e volto, que volto e fico, que fico e serei eterna. Morrer? Quem sabe? Qualquer dia, a qualquer hora os ponteiros cruzarão as pernas.
Pego o tempo de surpresa, passando, parando, inventando pesadelos ou sonhos leves de uma noite de verão. Fico por aqui mesmo. Pelo menos, por enquanto. Adoro não ser dona de nada. Escondo-me num território desconhecido numa rota perdida. Nem preciso de bússola, nem nada. Tenho apenas uma certeza, se a saudade me aperrear, embarcarei novamente.

Passo uma página, caio em outro dia que, na verdade, não é diferente coisa nenhuma, tem sol, tem nuvens, vento, flores, pássaros, borboletas e se eu quiser será todo azul.
Escrevo-me nos detalhes. Nem sei se faço o que quero, nem o que me mandam. Algumas vezes mandaram-me esperar: esperei, mandaram-me sonhar:sonhei. Agora, tenha santa paciência, não me mandem esquecer. Não esqueço nada, não esqueço mesmo. E, se obedecer, quem vai lembrar do que eu esqueci?
Mudanças, mudanças. E eu? Onde fico com a boca, as mãos, os pés e o corpo inteiro desgovernado, trucidado por uma saudade crônica, massacrado pelas mazelas da vida? Como se já não bastassem as do Natal. Ai, ai, como é ridículo esperar e acreditar no desconhecido. O melhor mesmo é cada um inventar seu mundo.
De repente: zás! O grito de Ali Babá escancara o mundo: Abre-te Sésamo!!!
Ainda há quem acredite!

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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