I – O Jabuti e a Anta – história da tradição oral, recontata por mim, que ouvi do Prof. Fernando Lébeis, que ouviu….

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Contam que um jabuti ia caminhando satisfeito pela floresta, quando sentiu um tremor de terra compassado, junto com um barulho surdo: -Pan! Pan! Pan! e percebeu:
– Ih! Lá vem a anta!
Como ele sabia que a anta não abaixava a cabeça nunca, nem olhava para os lados para ver o que estava a seu redor, pensou:
“Preciso correr, senão ela pode me pisar!”
E assim fez, apressando seu passo miúdo, que não o levou muito adiante.
Logo começou a ouvir:
-Pan! Pan! Pan!Pan!Pan!Pan!
“Ih! Ela tá chegando perto!” – concluiu aflito.
Dito e feito: a anta foi se aproximando, com seu passo pesado e –Pan! pisou no jabuti com tanta força, que o enterrou muito fundo.
Claro que o jabuti ficou furioso! Ficou soterrado tão fundo, que levou três anos pra subir à tona e sair do buraco em que fora metido.
A anta, por sua vez, seguiu seu caminho, sem nem se abalar.
Quando por fim, depois de muito esforço e cansaço, o jabuti conseguiu pôr a cabeça pra fora a primeira coisa que disse foi:
– Essa anta me paga! Vou atrás dela!
Saiu da toca, esticou as pernas e voltou ao caminho onde estava.
Logo adiante, encontrou uma bosta: seca, esturricada. O jabuti, reconhecendo que era “obra” da anta, perguntou à bosta:
– Quedê quem te fez?
Ao que a bosta respondeu:
– Ah! vai longe…. Já tem três anos que passou por aqui. Mas vá seguindo por aí, que ela anda sempre em frente, você acaba encontrando.
O jabuti obstinado pela ira foi andando, sem parar. Até encontrar uma outra bosta, também bem seca:
– Quedê quem te fez? – indagou.
– Tá por aí adiante. Já faz tempo que me deixou aqui.
E lá se foi o jabuti, de bosta em bosta, indagando e seguindo o rastro, com a raiva aumentando, quanto mais andava. Até que encontrou uma bosta bem nova:
– Quedê quem te fez? – ele quis saber
– Deve estar por perto – informou a bosta.
Animado, o jabuti apressou o passo. Um pouco depois, encontrou uma bosta bem recente:
– Quedê quem te fez?
– Deve estar bem pertinho. Acabou de me fazer. Veja! Inda tô quentinha!
E foi só o jabuti caminhar um pouco mais e viu. Lá estava a anta, deitada dormindo.
Ele chegou de mansinho e, com toda a força que conseguira juntar na raiva que sentira todo esse tempo, – Nhac! cravou os dentes no rabo da anta.
Jabuti quando morde, trinca os dentes e não sola mais.
A anta acordou em sobressalto, desesperada, sem entender o que estava acontecendo, saiu em desabalada corrida, cega pela dor e –Pum! bateu com a cabeça num pau e caiu morta.
O jabuti que vinha atrás, chegando um tanto depois, rodeou o cadáver, examinou bem a defunta e seguiu em frente…
Passaram-se muitos, muitos anos… Não dá pra dizer quantos, mas dizem que jabuti vive perto de 300 anos…. Pois muito tempo depois, ele voltou. Pelo mesmo caminho. E acabou dando de cara com o esqueleto da anta. Ali mesmo, onde ele vira ela caída morta.
Novamente o jabuti chegou perto, rodeou olhando bem pra anta e foi até lá, naquela pata que pisara nele. Bem devagarinho, com todo o cuidado, tirou o osso da canela da anta, fez uma flautinha e saiu tocando fagueiro:
– Firififiiii…. firififiiii…. firififiiii….firifofooommmm….

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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