horta.silva@sapo.          
         

A situação da União Europeia e de Portugal mantém-se e a Alemanha cansou-se de subsidiar a incapacidade de alguns estados membros. Por variadíssimas razões, o debate político continuará enrolado na crise, com enfoque no orçamento, no PEC, na segurança social, nas negociatas a nível do sector empresarial do Estado, na vida de um país que gasta mais do que produz, na especulação bolsista, na falta de flexibilidade em gestão de pessoal, na precariedade dos recursos naturais, no preço dos combustíveis, etc. Aliás, há quem afirme que a Natureza não foi generosa no que toca ao subsolo pátrio.
A industrialização entrou tarde em Portugal. A agonia prolongada da Monarquia, a falta de traquejo dos homens da 1ª República e os artifícios do Estado Novo, no tempo de Salazar, contribuíram para que este facto se consumasse. Depois da segunda guerra mundial, a industrialização arrastou consigo o selo do comunismo, razão pela qual só foram implementadas, com timidez, as indústrias de cimentos, adubos e siderurgia, estas últimas que, juntamente com o latifúndio, foram nichos preferenciais de células comunistas. Marcello Caetano deu a volta por cima e Portugal cresceu a um nível nunca mais igualado, mas a História nunca lhe reconheceu mérito. Mas é ou não verdade que Portugal é parco em recursos minerais e energéticos? Há quem afirme que há poços de petróleo selados por empresas estrangeiras, pois na vida de hoje tudo é negócio e os portugueses têm fraca apetência para o jogo comercial em benefício da Nação.
Portugal não é um país parco em recursos minerais. Porém, todo o recurso tem um tempo de florescimento em consonância com o estado do desenvolvimento tecnológico. Se no tempo dos Faraós, os egípcios usavam petróleo para preservar cadáveres, hoje, o petróleo é a matéria-prima que faz girar a economia mundial. Portugal teve, no tempo da segunda guerra mundial, a volframite, que enriqueceu muita gente arvorada em mineiros e intermediários do tungsténio necessário à tecnologia alemã para fabrico de aço para canhões. Aliás, em termos de minérios de ferro, chumbo, cobre, zinco, tungsténio e outros, Portugal teve actividade mineira de norte a sul e explorou urânio na Urgeiriça e carvão mineral no Pejão e Cabo Mondego. O grande problema é que Portugal nunca soube programar o desenvolvimento tecnológico no sentido da beneficiação das matérias-primas de forma a usá-las e negociá-las com valor acrescentado, pese a verdade ter vendido, no tempo do LNETI, urânio enriquecido. De há uns anos a esta parte, o valor dos recursos metálicos caiu drasticamente, face à facilidade que os países de mão-de-obra barata têm em os explorar, beneficiar e comercializar a preços imbatíveis (ex: China), razão pela qual se goraram as expectativas das minas de Neves-Corvo e Aljustrel. Quanto aos hidrocarbonetos, é preciso ter em atenção a indispensável existência de rochas e estruturas geológicas que permitam aprisionar o petróleo e o gás que migram do berço genético para locais onde ficam armazenados em condições ou não de exploração rentável. É este o trabalho em curso no ofshore português. São conhecidas ocorrências de hidrocarbonetos desde meados do século passado, mas as condições de jazida não têm sido consideradas com interesse comercial. Aliás, Portugal soube explorar, com sucesso, as jazidas de petróleo em Angola e Cabinda, facto a que está associado o crescimento económico do tempo de Marcello Caetano, enquanto Salazar, quando soube da notícia da ocorrência de petróleo na bacia sedimentar do Quanza, exprimiu com angústia, uma das frases mais emblemáticas de todo o seu percurso político: «Só nos faltava mais esta…».
Portugal só conseguiu ser pioneiro na época dos descobrimentos e, mesmo assim, perdemos a corrida comercial das especiarias para os holandeses, por estes descobrirem o processo de as preservar, com qualidade, no decurso das longas viagens. Que mais é possível dizer?

            

                            

         

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