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Até os inimigos do Caldeirão são obrigados a reconhecer essa prática solidária da ação pedagógica. Assim se expressa o general José de Góis Campos Barros que comandou a chacina: Para os seus celeiros convergiam todos os produtos da comuna (…) Aqui nada lhe (ao beato) pertence; é patrimônio de todos os que viviam nesta irmandade e recorrerem à nossa (do beato) proteção. Também o poeta popular Abraão Batista, além de reconhecer o caráter solidário da ação pedagógica do Caldeirão, reconhece ainda outro aspecto: seu caráter ecológico. O Caldeirão era uma verdadeira escola onde havia respeito ao semelhante; tudo pertencia a todos; praticava-se uma ecologia avançada. Todas as manhãs, eram distribuídos xeréns para os pássaros (Abraão Batista em entrevista no dia 12 de junho de 1993). Nesse sentido, os escritos e os depoimentos sobre o Caldeirão constatam o intenso cuidado da população com a grande diversidade de animais, inclusive animais raros, como papagaios e pavões.

A educação no Caldeirão não era uma parcela isolada da vida, que se dava em determinado lugar e em determinado espaço de tempo. Ali a ação pedagógica era integral; era a vida inteira e em todos os lugares.

Educava-se na casa de farinha, onde se produzia a farinha, os beijus e as tapiocas. A casa de farinha, na época da colheita da mandioca, funcionava com a participação de homens, mulheres e crianças. Enquanto se trabalhava na produção da farinha, trocavam-se idéias, teciam-se comentários, entoavam-se cantos religiosos; enfim, a casa de farinha parecia uma escola, como a uma escola se parecia também o local de fabricação dos objetos de cerâmica e o engenho de fazer rapadura. Outra que funcionava muito bem era a escola de saúde. Lá se preparava a meisinha (remédio feito com plantas medicinais por aqueles que conhecem os segredos da natureza, no campo da medicina popular). Essas plantas eram postas em infusão e depois aplicadas devidamente.

Nos casos em que a meisinha parecia ineficaz, procurava-se a orientação médica, farmacêutica ou de enfermeiras. As limitações dos doutores da comunidade formados e especializados em plantas medicinais eram supridas pelos médicos profissionais, formados pelas universidades convencionais. Assim, as compras de medicamento eram feitas sob a orientação do farmacêutico José Alves de Figueiredo, vizinho e amigo. Enfim, no Caldeirão, a população era educada ou se educava, em vista de solucionar as necessidades vitais: comida, habitação, saúde, etc.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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