Entra ano, sai ano, sempre fica o desejo de paz. Faz tempo que o primeiro do ano é o Dia Mundial da Paz. Vem desde Paulo VI. Em cada ano, o pretexto para a busca da paz pode variar, mas o estribilho é sempre o mesmo: a paz no mundo continua sendo uma utopia inatingível, tantos os empecilhos para que os povos do mundo tenham a certeza da paz, com serenidade e confiança mútua.
          A persistência dos conflitos contrasta com este desejo que brota do fundo de cada coração humano. Quando olhamos a beleza do universo, e a perfeita harmonia da trajetória dos astros, nos perguntamos porque a humanidade tem tanta dificuldade para encontrar os caminhos da paz.
          O salmista, diante do encanto que o universo suscita, pergunta pela razão da grandeza humana, colocada “pouco abaixo de Deus”. Mas diante do mesmo encanto que o universo desperta em nós, podemos nos perguntar também pela teimosa fraqueza humana, incapaz de superar os conflitos de interesses, às custas do relacionamento fraterno, amigável e tranqüilo.
          A busca da paz marca a trajetória da humanidade, desde os séculos antigos. O próprio nome da cidade santa o atesta. Jerusalém traz em seu bojo a palavra “paz”, “salam”, “chalon”. Que viva em paz a cidade que se tornou morada de Deus. Mas a situação atual desta cidade chamada a simbolizar a paz mundial, testemunha quanto é difícil para a humanidade esquecer as desavenças, para viver na paz, “que o mundo não pode dar”, como advertiu Jesus.
          Desta vez Bento 16 escolheu um tema muito denso, e muito atual: a liberdade religiosa como caminho para a paz. O papa faz uma corajosa defesa do direito que cada pessoa humana tem, de se relacionar com Deus de acordo com sua consciência. Pois a consciência é o reduto mais profundo de cada pessoa humana, onde ela se defronta consigo mesma, e assim fazendo, sente de estar se confrontando com o próprio Deus.
          Por isto, a liberdade religiosa vem necessariamente ligada à consciência pessoal de cada um. Cada pessoa humana tem o direito de se posicionar livremente, no íntimo de si mesma, diante da realidade visível e concreta, e através desta realidade se posicionar diante da fonte última da existência, vale dizer, diante de Deus, autor da natureza criada.
          A partir deste confronto, a pessoa humana se sente valorizada, percebe que bate à porta do mistério da vida. E assim se dispõe a respeitar a própria realidade, e de maneira muito especial respeitar as outras pessoas, que como ela são também chamadas a manter este relacionamento de respeito.
          Quem se dá bem com Deus, quem encontra sua identidade confrontando-se com Deus, aprende a se dar bem com a natureza, e de maneira muito especial, se dá bem com as outras pessoas.
          Por isto, de fato, a liberdade religiosa, pela qual nos defrontamos livremente com Deus, é caminho para a paz entre as pessoas, para a paz no mundo. Tem razão o Papa.

* http://www.diocesedejales.org.br/

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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