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A Igreja de Jesus que está em Olinda-Recife comemora, neste 5 de dezembro, os cem anos de sua caminhada na história de Pernambuco como Arquidiocese. Como prelazia, fora criada no longínquo 1614, com a bula “Fasti novi Orbis” do Papa Paulo V, tendo seu primeiro pastor o Pe. Antonio Teixeira Cabral. A ele, seguiu-se o Pe. Bartolomeu Lagarto, com o título de Administrador Apostólico. Em 1676, fôra elevada a diocese pelo Papa Inocêncio Xi, com o título de diocese de Olinda. Seguiram-se daí seus 24 bispos até Dom Luís Raimundo da Silva Brito, nomeado em 1901. Em 5 de dezembro de 1910, Olinda foi elevada a Arquidiocese e só em 1918, com D. Sebastião Leme como nosso Arcebispo, mais tarde cardeal do Rio de Janeiro e, em 1939, Legado papal ao III Congresso Eucarístico Nacional no Recife, a bula “Cum urbs Recife”, do Papa Bento XV, deu-lhe o título de Arquidiocese de Olinda e Recife, duplo nome que até hoje conserva. São ao todo 31 bispos, entre os quais 8 arcebispos até o atual, nosso estimado e já tão querido do povo do Recife, Dom Antônio Fernando Saburido.

Entre os bispos, merece especial referência o 20º, mártir de seu dever de pastor: Dom Vital Maria Gonçalves de Oliveira, eleito em 1871. Jovem capuchinho, com apurada formação teológica na França,, quando a maçonaria dominava a política imperial brasileira e buscava lançar seus tentáculos sobre a Igreja, ele teve uma opção a fazer: ou, tranquilo, acomodar –se ao regime, ou rebelar-se contra ele com arriscadas conseqüências. Optou pelo martírio. Lançou o interdito sobre as irmandades do Recife, dirigidas por maçons, contra sua explícita proibição. Foi preso, e encarcerado no Rio de Janeiro. O Imperador Dom Pedro II comutou a pena de prisão com trabalhos forçados em prisão simples. Após cumprir pena de dois anos, foi indultado pelo presidente do Conselho de Ministros, o Duque de Caxias. Amargurado, retirou-se para Paris, onde faleceu dois anos depois, em circunstâncias misteriosas e suspeitas.

Tive o privilégio de conhecer os seis últimos arcebispos. Fui crismado por Dom Miguel de Lima Valverde (1922-1951) na Matriz da Boa Vista, onde eu fora também batizado. Homem severo, de absoluta pontualidade em seus compromissos pastorais, foi muito amado por seu clero e pelo povo. Era bahiano e seguiu-se-lhe um mineiro, Dom Antônio de Almeida Morais (1951-1960), vindo da diocese de Montes Claros. De início, ganhou logo muita popularidade , mas também sofreu por ingratidão de pessoas, que trouxera de Minas. Grande orador, tinha aquilo que os romanos chamavam de “sermo corporis”, isto é, já impressionava pela imponência de seu físico. Do Recife, foi transferido para Niteroi, que na ocasião fora elevada a Arquidiocese, sendo ele seu 1º arcebispo. De Nazaré, veio para o Recife Dom Carlos Gouveia Coelho . Em seu breve pastoreio de apenas quatro anos incompletos, como grande organizador que era, procurou organizar a diocese. Suas audiências no Palácio dos Manguinhos eram rigorosamente programadas por categorias eclesiais. Lembro sua determinação em anotar quantas comunhões exatamente eram dadas em cada missa, contando um a um os comungantes e não mais apenas anotando no calendário o número das partículas colocadas para consagração, como era feito antes pelo sacristão. Criou uma assistência sacerdotal no Pronto Socorro de 24 horas por dia, com 4 sacerdotes diários, que mensalmente assumiam o compromisso de assistir aos acidentados. Faleceu em conseqüência de uma operação no Rio em março de 1964. Seguiu-lhe poucas semanas depois, o cearense Dom Hélder Câmara, conhecido mundialmente como o Pastor da Paz. Pela sua atitude desassombrada em defesa dos pobres, dos oprimidos e injustiçados, foi admirado no mundo inteiro e, no Brasil, foi duramente perseguido pelo regime, que lhe cortou todo acesso aos meios de comunicação, sem que por isso sua palavra corajosa deixasse de chegar às massas oprimidas. Ao seu lado, estava como bispo auxiliar o Pastor do silêncio, Dom José Lamartine Soares, a quem eu tive a honra de suceder no sólio de Maceió, que ele infelizmente, nomeado pelo Santo Padre, não chegou a assumir por uma insidiosa doença. Depois de Dom Hélder, em 1985, veio de Paracatu (Minas Gerais) o pernambucano de Caruaru, Dom José Cardoso Sobrinho. Seguindo a tradição dos bispos de Olinda e Recife, também Dom José sofreu muitas incompreensões e perseguições, sobretudo da imprensa escrita, em sua coragem apostólica de santificar o clero e dar sentido pastoral às estruturas eclesiais. Como Dom Vital, ele não buscou acomodar-se e ganhar a simpatia popular no exercício, às vezes heróico, de seu múnus pastoral.

Dom Fernando, 31º bispo e 8º arcebispo da veneranda Sé de Olinda e Recife, ao comemorar seu primeiro ano de pastoreio, está procurando dinamizar as pastorais e organizar setores e áreas pastorais. Fazemos-lhe votos de uma longa e profícua ação pastoral no meio de nós.

(*) É arcebispo emérito de Maceió.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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