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Sua feição é de homem triste
Aprisionado à força,
E de tão cansado
Já não apresenta resistência,
Apenas sonha em sair vivo,
Sem dinheiro, mas com vida
Para reencontrar os seus
E chorar seu sofrimento.
O trabalho é desumano
E a comida é quase nada
Em panelas sujas
Da fumaça de um fogo
Que queima a ilusão
Daquele homem vencido
E entregue ao próprio destino.
Sua rede repousa em barraco,
Tapiri de palha sem porta
E um sujo dessa prisão social
Que exala o cheiro da morte
E uma desesperança sem fim
Nessa vida de cão.
O fazendeiro é o algoz
De sua vida cativa
Que o enganou com promessa vã
E o deixou naquela vida de escravo,
E ele, mas um nodertisno
Que veio iludido
Pela proposta tentadora
De trabalho e condições razoáveis
Para dar alimento à sua família
Que ficou à sua espera
Com o olhar perdido no tempo,
Mas o tempo se foi
E nem notícia e nem dinheiro,
Nem sequer
Endereço de seu paradeiro,
Pois agora ele é escravo
Nas fazendas sem nome
Desse nosso Pará atrasado
Que acorrenta homens e mulheres
E lhes arranca a dignidade
Transformando-os em reféns
De sua ganância
E dos seus desmandos.
O açoite agora é silencioso,
Machuca a alma,
O caráter,
Sua reputação
E sua esperança
De dar o que comer
À sua gente humilde
Que ficou ansiosa
Aguardando dias bem melhores.
Mal sabem eles
Que seu herói
Agora chora saudade
Impedido de sair
E gozar da liberdade.
Mesmo em tempos modernos
Essa ferida da escravidão
Mancha nosso rico estado
E destrói sonhos,
Aniquila a esperança
Desse povo trabalhador
Que quer nada mais do que
Poder comprar comida
Para não ver seus filhos
Chorando de fome
Nesse mundo de desilusão.

(*) Professor da Rede Pública Municipal de Santarém
Graduado Pleno em Pedagogia pela UFPA

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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