A primeira advertência de Cristo, ao começar sua pregação, se referia ao tempo. “Completou-se o tempo”, dizia ele. Depois de realizar, por sua conta, diversos sinais, continuava insistindo na necessidade de “interpretar os sinais dos tempos”.
A expressão faz lembrar João 23. Ele a usava com freqüência. Otimista, pressentia que estava próxima uma nova primavera para a Igreja. Os sinais eram favoráveis, os ventos sopravam na mesma direção. O tempo era oportuno.
Ele mesmo foi um sinal de Deus. Com sua presença, com sua simplicidade, com sua bondade, com sua coragem de convocar um concílio com sua idade avançada, imprimia otimismo e transformava em sinais positivos até os problemas que a realidade apresentava.
Passados 50 anos, parece que os tempos mudaram. Já não existe aquele clima convergente, de esperança, de otimismo com o futuro da Igreja, de vontade de viver com autenticidade os valores do Evangelho.
Foi impressionante como João 23, em poucos meses, conseguiu contagiar de entusiasmo a todos, tanto a Igreja como a sociedade do seu tempo.
Começou com a surpresa de sua eleição, na idade de 77 anos, e com a expectativa logo criada de um “papa de transição”. Seu gesto de visitar as crianças doentes no hospital no natal de 1958, seguido da visita aos presos de Roma no mesmo dia, granjeou a simpatia e o entusiasmo de todo o povo. Esta simpatia feita de bondade, criou o ambiente favorável para a pronta adesão à idéia de um concílio ecumênico para renovar a Igreja e reconciliá-la com o mundo atual. De “papa de transição”, passou a “papa da transição”.
Agora, parece haver uma dispersão de apelos, e uma pesada inércia para enfrentar os problemas.
Crescem as resistências dentro da própria Igreja diante do projeto de renovação conciliar. No mundo, alguns problemas tomam forma dramática, como o aumento do número de famintos, mas a situação é vista como se fosse uma fatalidade diante da qual nos sentimos impotentes.
São estes os nossos tempos. Mas João 23 continua nos incentivando a ver o lado positivo da realidade. Ele continua nos pedindo para interpretar com esperança os sinais dos tempos.
A Diocese de Jales, em todo o caso, se sente especialmente ligada a João 23. Foi ele que assinou o decreto de sua criação, logo no início do seu pontificado.
De maneira especial, sentimos o compromisso de sustentar com firmeza a proposta de renovação eclesial que o concílio delineou com sólidos fundamentos e com indicações práticas.
A Diocese está prestes de celebrar o seu “ano jubilar”, para comemorar os 50 anos de sua existência. Ela percebe que agora já não é mais suficiente o entusiasmo fácil dos tempos do concílio. As resistências se cristalizaram, em diversos nichos. Para levar adiante o projeto conciliar é preciso um plano bem pensado e articulado. E´ o que a Diocese espera fazer, incentivada pela memória dos seus inícios, vividos com intensidade sob a inspiração do Papa João 23.
Foi ele que pediu aos bispos do Brasil um “plano de emergência” para a evangelização do povo brasileiro, na primeira sessão do concílio, em 1962. Agora, a maneira de administrar os ventos, que continuam soprando, é implementar um bom plano diocesano de pastoral. Assim será possível fazer da Igreja Local, da Diocese, a referência positiva, e indispensável, para todos os que querem ser Igreja e participar de sua vida e de sua missão.
* (http://www.diocesedejales.org.br/)