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Se existe uma palavra que pode ser mágica é o desejo. Quando desejamos com toda força interior, emitimos uma energia misteriosa que nos compromete no empenho de realizar o que desejamos e pode ter conseqüências concretas nas outras pessoas e no mundo. Nestes dias, há quem deseje “Feliz ano novo!” como mera formalidade social. Ao contrário, a maioria das pessoas, de fato, anseia que este ano de 2011 seja um tempo mais feliz e de paz para nós mesmos, nossos entes queridos e para todo mundo. Entretanto, mesmo quem deseja de coração os melhores votos de feliz ano novo nem sempre sabe como tornar o seu voto um caminho positivo para um futuro melhor. As culturas e religiões antigas crêem na força da palavra. Em muitas religiões indígenas, as palavras curam ou, ao contrário, podem matar. Na Bíblia, vários salmos pedem a Deus que nos proteja dos “i pô ´allê ´awen”, os que, com sua palavra, provocam males como doenças, tragédias ecológicas e todo tipo de infelicidade. Esta cultura vinha de Sumer onde existiam rituais de Shurpu, maldições do tipo que em nossa cultura popular se chamaria “rogar praga”. Ao contrário disso, no Novo Testamento, uma carta atribuída a Pedro insiste que “nós temos a vocação da bênção, isto é, somos chamados a bendizer, ou seja invocar o bem sobre as pessoas e sobre o universo (1 Pd 3, 9).

Para as culturas antigas, a palavra é eficaz quando nasce no mais profundo do coração e é precedida pela prática de vida. O Mahatma Gandhi ensinava: “Comece por você mesmo a mudança que deseja para o mundo”. No Evangelho, é dito que a palavra de Deus se realizou em João Batista no deserto (Lc 3). Isso significa que, primeiramente João viveu a palavra que depois ele passou a proclamar. Quando vivemos para os outros o amor, a generosidade, a solidariedade e a partilha de vida, então, o nosso desejo de que o mundo caminhe para isso se torna mais eficaz. Evidentemente que não temos força para mudar organizações sociais e sistemas complexos e baseados em leis estruturais. No entanto, podemos contribuir para que se criem as condições necessárias para transformar estas leis e sistemas.

Se você quiser, de fato, que este ano seja um tempo de profunda renovação da sua vida e isso repercuta bem para as pessoas ao seu redor e para todo o universo, refaça na noite de ano novo o compromisso de, a cada dia deste ano, consagrar um tempo, por mínimo que seja, de gratuidade e interioridade para renovar um diálogo verdadeiro e profundo consigo mesmo, comprometer-se em ser cada vez mais uma pessoa de diálogo com os outros seres humanos e intensificar a comunhão solidária com todos os seres vivos e com todo o universo. Faça isso e a bênção deste ano novo se realizará em você e no mundo inteiro a partir de você. Sinta como profundamente verdadeiras em sua vida e faça com que o sejam para os que convivem com você as palavras da antiga bênção irlandesa: “O vento sopre leve em teus ombros. Que o sol brilhe cálido sobre tua face, as chuvas caiam serenas em teus campos. E até que, de novo, eu te veja, que Deus te guarde na palma da sua mão”.

* MARCELO BARROS é monge beneditino e escritor. Tem 37 livros publicados, entre os quais “O Amor fecunda o Universo (Ecologia e Espiritualidade) com co-autoria de Frei Betto. Ed Agir, 2009.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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