Na seqüência da missão recebida, de promover a solidariedade, a Cáritas Brasileira achou por bem instituir um prêmio, a ser dado anualmente a projetos sociais apoiados por ela. Em princípio, daqui para a frente todos os projetos podem se habilitar a ganhar o prêmio, podendo se inscrever, e apresentar os motivos que respaldariam a concessão do prêmio. De tal modo que o prêmio passa a estimular todos os projetos, para que otimizem a aplicação dos recursos recebidos, e assim se habilitem a contar com o apoio extra que o prêmio poderá proporcionar.
            Portanto, uma iniciativa para incentivar o bom desempenho dos projetos.
            Mas a Cáritas teve outra intenção ao instituir este prêmio. Era homenagear uma figura muito importante, e muito querida, na história da Cáritas Brasileira. Trata-se de Odair Firmino, falecido recentemente. Em vida se identificou tanto com a Cáritas, pela longa folha de serviços, como secretário executivo e em outras funções, demonstrando sempre muita competência, mas sobretudo muita humanidade, que sua figura é recordada com carinho por todas pessoas que tiveram a alegria de conhece-lo, e de admirar seu devotamento e sua convicção na validade do trabalho executado pela Cáritas.
            Um prêmio, portanto, destinado à memória de uma pessoa que permanecerá como referência positiva e como patrimônio da história da Carias.
            Foi muito significativa a cerimônia de entrega dos primeiros prêmios, realizada na semana passada na sede da CNBB em Brasília. Foram três prêmios, concedidos a três projetos.
            Na ordem da premiação, o terceiro prêmio foi dado ao projeto “Reciclalázaro”, para a Paróquia situada na cidade de São Paulo, na Águia Branca, na Praça Cornélio, 101. O extenso lema do projeto denota a generosidade de objetivos: “preservando a natureza, reciclando vidas, e reduzindo a violência.” A história é simples, mas carregada de sugestões. O padre da Paróquia começou a perceber quanto os drogados e os mendigos situados na praça incomodavam os fiéis que freqüentavam as missas. Mas ele próprio ficou incomodado em sua consciência. Constatou que o rebanho dele não eram só os que freqüentavam a igreja, mas também os drogados que freqüentavam a praça. Começou a se aproximar deles, na confiança e no diálogo, que resultou na decisão de assumirem juntos com os paroquianos um trabalho da coleta seletiva de materiais recicláveis. O sucesso foi tanto, que envolveu os paroquianos, e agora já são trinta famílias que encontram sua sustentação nos resultados do projeto.
            O segundo prêmio foi dado ao projeto “Convivência com a realidade semiárida”, na região da Serra do Teixeira, no municio de Teixeira, na Paraíba. Foi comovente escutar o depoimento do representante do projeto, que afirmou: “não tenho vergonha de confessar para vocês que na seca passei fome”. A grande diferença é que agora ninguém mais passa fome. Com as cisternas de placa, que armazenam água das chuvas, é possível conviver com o semi árido nordestino. E isto nos leva a pensar que temos um imenso território brasileiro, todo ele habitável, contanto que aprendamos a conviver com suas características.
            O primeiro prêmio foi dado ao Projeto “Veredas Vivas”, da comunidade de Ponte de Mateus, no município de São Desidério, no oeste baiano, onde está chegando o cultivo da soja a todo o vapor. A intenção do projeto era a defesa da água e do meio ambiente. Mas logo se deram conta que sua causa é maior: garantir a sobrevivência dos povos do serrado, ameaçados pelo rápido avanço da soja, com o conseqüente confinamento das populações nativas, que vêem seu espaço cada vez mais reduzido e ameaçado. Este projeto revela a urgente necessidade de proteger os povos nativos, e de integrá-los na dinâmica social e econômica que o país vai conseguindo. E´ urgente compatibilizar o agro negócio com a agricultura familiar. O Brasil não pode permitir que o progresso na roça signifique o atropelo aos direitos sociais dos mais fracos.
            A figura do Odair Firmino, além do testemunho deixado por ele, nos indica a maneira de conseguir a crescente participação dos destinatários dos nossos projetos: usar sempre de respeito para com eles, dialogar em torno dos questionamentos que podem ser apresentados, e manter sempre a alegria contagiante que inspirava confiança e estabelecia solidariedade.
            Assim, o Odair Firmino continuará na Cáritas, na pessoa de todos os que se inspiram no bonito exemplo que ele nos deixou. Na sugestão do seu cunhado, seu nome fica alterado para “ODAIR FIRMINO DA SOLIDARIEDADE.

* http://www.diocesedejales.org.br/

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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