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“Um dos esmorecimentos mais trágicos de que a Igreja padeceu na segunda metade do século passado foi ter negligenciado o dom do Espírito Santo no sacramento da penitência. Em nós, sacerdotes, isso determinou uma terrível perda da estrutura espiritual” – denunciou o Cardeal de Colônia-Alemanha, Joaquim Meisner, no encontro dos sacerdotes, por ocasião do encerramento do Ano Sacerdotal na basílica romana de São Paulo fora dos muros, em 9 de junho do ano passado. Disse ainda o purpurado alemão: “ Quando fiéis leigos me perguntam: ‘Como podemos ajudar nossos sacerdotes?’ eu respondo sempre: ‘Vão confessar-se com eles!’ Quando o sacerdote deixa de ser confessor, torna-se um operador social de caráter religioso – ensinava com vigor o cardeal Meisner, na reportagem da revista “30DIAS”, de maio deste ano.

A confissão para o fiel cristão significa um encontrar-se consigo mesmo, examinando com sinceridade os escaninhos de seu íntimo, suas verdadeiras intenções, as motivações de seu agir; um encontrar-se com a Igreja, que ele empobreceu com seu pecado, os quais ela perdoa através de seu ministério, pela infinita misericórdia de Deus e um encontrar-se com Cristo. Ensina um dos antigos Padres da Igreja, o Abade Isaac, do mosteiro de Stella, do século XII: “Sem Cristo, nada pode a Igreja perdoar; nada quer Cristo perdoar sem a Igreja. A Igreja não pode perdoar, a não ser ao penitente, isto é, àquele a quem Cristo tocou. Cristo não quer ter por perdoado aquele que despreza a Igreja.”

Na confissão, o fiel cristão vem receber de Jesus, o pastor misericordioso que traz em seus ombros a ovelha tresmalhada, o perdão de suas culpas pelo ministério da Igreja. Vem receber a orientação específica para seu caso, suas dificuldades, os problemas no seu meio, na sua família, no seu ambiente de trabalho. È a orientação espiritual, de que ele precisa e o confessor está disposto a dá-la. Na confissão, ele vai ouvir a Palavra, que Deus lhe envia pessoalmente através do ministro sagrado.

A ação pastoral da Igreja em nossos dias, em meu modesto parecer, está enrolada no trinômio: assembléias – equipes – projetos. E mais projetos, mais equipes e mais assembléias. E assim, vai esquecendo o cristão concreto e individual, que busca no confessionário sua reconciliação com Deus, com a Igreja e consigo mesmo.

O Povo de Deus precisa ir mais ao sacerdote para receber o perdão de seus pecados e a orientação individual para sua conduta. Lembremos os grandes confessores da Igreja dos últimos tempos: o santo cura d´Ars, que com seu confessionário tornou-se o grande missionário para o mundo; São Leopoldo Mandic, de Pádua, que fez de sua cela um confessionário, para atender os fiéis 24 horas por dia; já em nossos dias, o famoso Padre Pio de Pietrelcina e, em nosso Nordeste, o santo capuchinho Frei Damião de Bozzano, que nas santas missões dedicava horas e horas para confessar os simples e humildes.

Ouçamos ainda o Cardeal de Colônia, acima citado: “A confissão nos permite o acesso a uma vida, em que não é possível pensar em nada mais a não ser em Deus. Deus nos diz em nosso íntimo: A única razão pela qual você pecou é porque você não crê que eu o ame bastante, que você realmente me interessa, que em mim você encontra a ternura de que precisa, que eu me alegro por lhe perdoar tudo o que você me traz na confissão”.

Mas, infelizmente, temos que constatar: o sacramento da confissão, o sacramento do perdão de Deus, pela intercessão da Igreja, está muito esquecido em nossos dias…

(*) É arcebispo emérito de Maceió.

Obs: Imagem enviada pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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