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Pio XI (Achille Ratti), papa de 1922 a 1939, foi acusado de rigidez e autoritarismo. Enfrentou com coragem apostólica os três grandes regimes totalitários da época. Contra a ideologia atéia e materialista do comunismo, que dominava a Rússia e já se espalhava pelo mundo, lançou explícita condenação com a encíclica Divini Redemptoris (1937), condenou o nazismo racista com a Carta Mit brennender Sorge (‘Com ardente inquietação)” – 14/03/1937) e o fascismo italiano com a Carta Non abbiamo bisogno (“Não temos necessidade” – 29/06/1931). Depois dele, veio Eugênio Pacelli, Papa Pio XII (1939 a 1958). Vários anos depois de sua morte, uma peça teatral “O Vigário” levantou a suspeita de que o Papa tinha compactuado com o hitlerismo, “para evitar mal maior”. Logo ele, que em suas famosas mensagens radiofônicas do Natal tanto condenara a guerra e todos os totalitarismos e tinha ocultado centenas e centenas de judeus, perseguidos do nazismo, nos conventos de Roma. Seguiu-se João XXIII, de formação diplomática e estudioso de História, foi acusado de bonachão e simplório. Iniciou a grande reviravolta da Igreja com o Concílio Vaticano II (1962-1965), do qual não pôde ver o final porque faleceu em 1963, deixando o legado para o seu sucessor. Paulo VI, o sofrido Paulo VI da Igreja pós-conciliar. Sua encíclica Humanae Vitae (1968), na qual enalteceu o supremo dom da vida, atraiu adversários e opositores, dentro e fora da Igreja, que a chamavam, no mínimo, a encíclica da pílula, enquanto ela é, na verdade, como diz o título, a defesa da vida humana. João Paulo II (1978-2005), enalteceu com coragem indômita os supremos valores da família, amou a juventude como porção eleita da Igreja e, num longo e precioso magistério, em suas inúmeras viagens ao redor do mundo, deu nova visibilidade ao pontificado romano como pastor universal. Mas também ele não deixou de ser acusado de retrógrado, totalitário e inimigo do progresso doutrinal e pastoral da Igreja.

E agora temos o santo, sábio e douto Bento XVI. E também ele não foge à regra de seus predecessores. A Agência ZENIT entrevistou Andrea Tornielli, co-autor com Paolo Rodarido do livro Ataque a Ratzinger.Ambos são jornalistas vaticanistas. Na entrevista, Tornielli declarou: “Acho que há vários grupos, várias realidades soltas e diferentes, com um interesse comum :transformar a Igreja em uma seita protestante, porque os ensinamentos da Igreja incomodam. Daí, o interesse em enfatizar os problemas da Igreja, por exemplo, o escândalo da pedofilia.”, “Certas campanhas da mídia mundial são determinadas pela fome negativa do preconceito consolidado e não correspondem à realidade, exposta com fidelidade e profundeza de conceitos pelo Papa Bento XVI. Querem que ele seja visto como um retrógrado conservador, antiliberal e antidemocrata”.

Sobre o triste episódio da Universidade Sapienza de Roma, em que negaram ao Papa a visita a uma Universidade da Igreja, Tonelli observou: “Não foram só pequenos grupos de estudantes ideologizados, mas também pesquisadores e professores da Universidade, que julgaram o Papa Ratzinger, em base a uma citação tomada na Wikipedia da internet. E acrescenta com certa malícia: “Isso deveria nos dizer algo sobre o nível “científico” de nossas Universidades…”

 A Zenit citou as palavras do Santo Padre no voo para Portugal: “A maior perseguição da Igreja não vem dos inimigos de fora, mas nasce do pecado da Igreja”. Tornielli apenas comentou: “A pergunta foi formulada com uma referência explícita ao abominável crime da pedofilia, que atinge expoentes do clero.” Na homilia de encerramento do Ano Sacerdotal em Roma, no último dia 11 de junho, o Papa Ratzinger falou num tom muito explícito sobre heresias e a necessidade de usar o cajado contra os lobos que querem fazer mal ao rebanho. E Tornielli informa que o Cardeal Ratzinger no começo de seu serviço à frente da Congregação para a Doutrina da Fé explicou que o Magistério tem o dever de proteger a fé dos simples (como recomendava S. Paulo ao seu discípulo Timóteo). Talvez os inimigos de Bento XVI venham a compreender que o Papa não é um monarca absoluto, mas o Pastor que obedece a Jesus Cristo na transmissão do depósito da fé.”

E concluo com a mesma frase com que termina o livro dos dois jornalistas vaticanistas:”A única coisa que não se perdoa a Ratzinger é ele ter sido eleito PAPA!”.

(*) É arcebispo emérito de Maceió.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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