Começa a preocupar o nível de polarização que está atingindo o segundo turno das eleições para a presidência da república. A situação requer o retorno ao bom senso, para que a campanha prossiga no respeito mútuo entre todos, tanto candidatos como eleitores.
Uma campanha eleitoral, ainda mais quando destinada a eleger a pessoa que vai ocupar a Presidência da República, não pode comprometer valores que se constituem em precioso patrimônio histórico e cultural de nosso país. E´ preciso resguardar estes valores, evitando que fiquem comprometidos pelo clima de crescente tensão que ameaça comprometer o bom andamento do processo eleitoral.
O Brasil é um país com uma mensagem a dar ao mundo inteiro, de respeito da diversidade, de convivência pacífica, de aceitação da pluralidade racial e cultural, de tolerância, de diálogo e de esportividade em contornar situações difíceis.
Este patrimônio não pode ficar comprometido pelos equívocos de uma campanha eleitoral que apela para os ataques pessoais e para a tentativa de destruir o bom nome e a imagem dos adversários políticos, instigando ódio e calúnias.
Existe uma ética eleitoral, que precisa ser urgida e colocada em prática, enquanto é tempo. Antes de cumprir a finalidade de indicar os eleitos pela maioria de votos, a campanha eleitoral tem o compromisso de provar que temos maturidade suficiente para praticar a democracia.
A maneira como está transcorrendo a campanha, deixa evidente a urgência de uma reforma política, que precisará ser feita de imediato, logo que se iniciar o novo mandato. Há lições claras que precisam ser recolhidas, e colocadas na nova legislação, para que o exercício da democracia seja amparado por leis que coíbam os abusos que estão sendo cometidos nesta campanha.
Antes ainda do resultado final deste pleito, precisamos demonstrar que somos capazes de administrar com responsabilidade o clima de tensão que a campanha está produzindo. Para eleger os mandatários da nação, não podemos permitir que fique comprometido o convívio pacífico, que é indispensável para que os eleitos possam exercer com eficácia os seus mandatos.
Há sintomas muito preocupantes. Como episódio símbolo pode ser lembrado o caso da menina de nove anos, que acabou sendo espancada pelos colegas na escola, só porque trazia o emblema de uma candidatura.
E´ importante identificar logo o nascedouro dos problemas. Há situações novas, ainda não contempladas pela lei. Uma delas, por exemplo, é o uso da internet. Quando associado ao fanatismo e à falta de ética, resultam as barbaridades que são propagadas aos quatro ventos. Para anulá-las, o melhor antídoto, certamente, será o voto. Precisamos desautorizar, pelo voto, a falta de ética de quem inventa calúnias, e as propaga impunemente.
A situação requer uma profunda reflexão sobre as conseqüências que podem ser introduzidas na sociedade brasileira pelos diversos tipos de fundamentalismos que estão se manifestando. Neste sentido, junto com a preocupação em resguardar valores de nosso patrimônio histórico, é bom perguntar-nos se não é conveniente resguardar a finalidade primeira de nossas instituições. As Igrejas, por exemplo, e outras manifestações religiosas, que podem ter sua influência positiva também nos processos eleitorais, não seria melhor que se resguardassem, para exercerem a função de preservar a tolerância e o convívio pacífico na sociedade?
Antes de irmos de novo para a urna, temos todos o compromisso de consultar nossa consciência, e nos perguntar o que podemos fazer para preservar o exercício da democracia em nosso país, no respeito dos valores éticos que incumbem a todos, cuja violação precisa ser coibida adequadamente.