Djanira Silva 27 de outubro de 2010

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            Tarde quente. Pássaros voavam de uma árvore para outra em busca de abrigo. Tanajuras, aos montes, caíam no meio da rua. As crianças faziam algazarra. Quanta liberdade nos movimentos impulsivos, sem premeditação.
            Aconteciam porque acontecia a chuva a mudança de tempo, o tempo de ser criança. A frieza da tarde denunciava uma nova etapa do tempo e, quem sabe, da vida. Escureceu mais cedo. Restava do sol apenas um pálido fio de luz que se esgueirava por entre a escuridão das nuvens. Começou a chover.
            O dia nem mais parecia um dia. Era uma coisa que aos poucos se desintegrava, uma coisa que aos poucos se dissipava deixando em seu lugar uns restos de sombra a ameaça de uma noite prematura, a tristeza, uma tristeza que apagava os sorrisos. As faces contorcidas, sombras mais densas e fortes, o homem impotente diante da loucura do tempo. A sombra manchou o espaço, o rosto, a alma.
            Acordo. Recolho o que resta das sombras.
            Quem abriu as portas para a tristeza entrar?

Obs: Texto retirado do livro da autora – A Morte Cega

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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