E O INSTITUTO GEOGRÁFICO E HISTÓRICO DA BAHIA

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Mais uma vez o IGHB presenteia a comunidade acadêmica da Bahia com um Simpósio Internacional. Desta vez é para comemorar, refletir e discutir sobre a presença da Família Real no Brasil, dentro das comemorações dos 200 anos deste acontecimento. O tema oficial é :A Família Real na Bahia. A abertura foi no dia 13 de maio numa sessão comemorativa dos 114 anos de fundação daquela instituição. A palavra de abertura coube à Presidente Profª Consuelo Pondé de Sena acompanhada da palavra do orador oficial da casa que é o Prof. Edivaldo Boaventura. Ele fez uma homenagem aos sócios falecidos recentemente : o Senador Antonio Carlos Magalhães, Evandro Andrade. George Modesto, Iramaia Carvalho,Lafayete Ponde,Pedro Maia e Renato Mesquita. Como abertura dos trabalhos, houve a conferência do Prof. Arno Wehling, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro sob o título : “O processo de crescente diferenciação do Brasil em relação a Portugal no período joanino”. Foi também lançado a 2ª edição do livro “Apontamentos da Imprensa na Bahia”.Sócios correspondentes também foram diplomados.

A programação oficial se desenvolve na sede do IGHB de 14 a 16 de maio.

No dia 14, houve pela manhã a palestra de Miguel Monteiro (Portugal) :”D. João VI,um rei amado ou odiado?” Em seguida Manuela Mendonça (Presidente da Academia Portuguesa de História) foi proferida a conferência intitulada : “Um reino na Europa com um rei na América”.À tarde teve lugar uma Mesa Redonda sob o título “A Família Real na Bahia”. Ainda à tarde houve a conferência de Antonio Pedro Vicente (Universidade Nova de Lisboa) sobre as “Conseqüências para o Brasil da transferência da Corte”.

No dia 15, haverá a palestra de Mary Del Priore (Universidade de S. Paulo) sob o título : “Domingos Borges de Barros: um baiano notável no tempo dos Braganças”.Em seguida Francisco José Falcon (Professor da Universo, Rio de Janeiro) terá como tema “A história da história da família real”. À tarde haverá a Mesa Redonda com o tema “Família e Sociedade”. Em seguida, às 16:00 h. haverá outra Mesa Redonda sob o tema “Religião e Gênero” onde estarei apresentando o tema : “Tollenare, século XIX- a religião na Bahia na visão de um viajante”.Marli Geralda falará sobre “Religião e etnia na história da sociedade baiana” e Elisete Silva sobre os “Anglicanos no Brasil e na Bahia”.

No dia 16, 6ª f., Pablo Sotuyo Blanco (Escola de música da Ufba) falará sobre “A música na Bahia em tempos de D. João VI”. Em seguida haverá a Mesa redonda com o título “Educação e Cultura”. À tarde haverá duas Mesas Redondas sob os temas “Economia e Política” e “Perspectivas historiográficas do século XIX: período joanino”.

Às 19:00h será o encerramento com apresentação musical.

Os Mini-Cursos serão realizados no Campus da Lapa da Ucsal e versarão sobre os temas : “As missões artísticas do período joanino”, e “Marcos de Noronha de Brito, um missionário na Corte de D. João VI”.

O tema que me coube na Mesa Redonda,foi “Tollenare,século XIX- a religião na Bahia na visão de um viajante”. Ele é um comerciante francês que aqui veio com o intuito preciso de comerciar o algodão da região. Mas nos legou uma obra ímpar com suas impressões sobre os dois estados que visitou, Pernambuco e Bahia, mesmo que não tivesse o objetivo de escrever um livro. Através de Ferdinand Denis, sabia-se da existência em Paris de um manuscrito na Biblioteca de Stª Genoveva sobre a viagem a Portugal, Pernambuco e Bahia de autoria do francês L.F. Tolennare.O livro é intitulado “Notas Dominicais” por ser o resultado de observações que ele elaborava aos domingos, uma vez que estava envolvido nas atividades comerciais durante a semana. Um século mais tarde chegou ao Brasil, traduzida por Alfredo de Carvalho na Revista do Instituto Arqueológico e Geográfico de Pernambuco a parte relativa a esse estado e no volume XIX do IGHB a segunda parte relacionada à Bahia.

Oliveira Lima conhece, descreve e comenta esse trabalho de Tollenare. Ele aqui chega no final de 1816 e só regressa no início de 1818, tendo vivido em Pernambuco todo o episódio da Revolução de 1817.

Aqui chegando , ele constata aquilo que mais tarde G. Freyre irá comentar em Casa Grande e Senzala, que o nosso catolicismo não era o dos Cânones tridentinos, mas sim aquele que, no contato com as formas afras, “como que se amorenou, os santos adquirindo da terra uma cor mais quente de carne que a européia”.Ele visitou conventos, como o de Stª Tereza em Olinda e lá se espantou que os frades fossem servidos por escravos. Diz ele:”Testemunhei o meu pasmo por ver cristãos manterem cristãos na escravidão;responderam-me que os beneditinos possuíam engenhos e por conseqüência, escravos.Parece que as leis canônicas o autorizam”. Também se admirou ao passar na rua e ver um padre levando o Santíssimo Sacramento e logo “todo mundo se ajoelhar e até os soldados, quando havia um corpo de guarda, rufarem os tambores e acompanharem o sacerdote”.Também lhe causou espécie a relação religião e escravidão por que testemunhou a chegada de muitos navios negreiros.Assistiu a batismos de escravos; mas os que vinham de Moçambique e Angola já eram batizados lá. Também assistiu a casamentos, permitidos pelo senhor, mas que, ao mesmo tempo, os casais poderiam ser vendidos separadamente.E também presenciou senhores cortarem a celebração da Missa aos escravos, para economizar o pagamento ao padre, alegando que “ o sacrifício da Missa é de ordem demasiado elevada para aquela gente”.

Sebastião Heber. Prof. adjunto da UNEB, da Faculdade 2 de Julho e da Cairu. Membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e da Academia Mater Salvatoris

Obs: Texto escrito em 05.2008

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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