O ser humano é essa fúria por existir. Logo que é concebido, entra em um movimento constante. Quando chega a hora, insiste em ser dado à luz e já nasce esperneando. Cresce rápido, tem um apetite insaciável e quer andar. Curioso, mexe em tudo e pergunta o porquê de tudo. Não quer ser pequeno, sai de casa e corre atrás do infinito. Para saciar sua insatisfação de comida, de beleza e de perfeição, não se cansa de inventar e recriar.
Quando os humanos percebem que seu querer não é poder ou descobrem que tudo que nasce tem um fim, então, apelam para as poções mágicas, para continuar vivos e em ascensão. Nessa sua procura, se fazem deuses ou inventam deuses para poder ressurgir e continuar a brilhar.
O processo da vida acontece em um mundo real, onde os ser humano está acompanhado de outros seres vivos, pretendendo a mesma coisa. Então, entende que a aventura de viver exige construir caminhos, junto porque só não se vai muito longe. Junta-se em bandos, em classes, em povos para mútua sobrevivência.
Nesta momento, olha para dentro de si e, como os índios guaranis, vê que dentro de cada ser, convivem dois cachorros, cada um com sua mundivisão e uma intencionalidade. Cresce o cão que for mais alimentado por cada pessoa. O cachorro da direita sugere um caminho e o da esquerda outro. Cada projeto tem seus princípios, sua moral, seu método de atuação e seus mecanismos de controle.
O caminho do primeiro passa pela vontade de crescer sozinho e, como não é possível, tenta vencer os outros pela competição de força e esperteza. O segundo propõe a via do compromisso solidário, a participação e a cooperação. O primeiro caminho é simpático porque satisfaz o desejo, já o segundo cobra ousadia, convicção e sacrifício.
A ética que marca o rumo e o sentido de uma vida é o conteúdo da utopia. A moral reúne as regras e os princípios necessários a sua construção. A ética do cada um por si, ainda que pareça fácil, não sacia a sede que é a marca do ser humano. Vira, inclusive, uma tormenta porque para subir na vida a pessoa precisa usar os irmãos como escada. A ética do desenvolvimento humano, em vez da competição, propõe a criatividade, a companhia, o intercâmbio.
O contínuo e verdadeiro desenvolvimento humano só pode ter como horizonte a plena realização e satisfação do conjunto dos habitantes de uma nação. Por isso, entende que as várias dimensões do progresso, devem se orientar pelo princípio ético da rejeição de qualquer exploração ou apropriação do trabalho alheio, da rejeição de todas formas de dominação (classista, étnica, religiosa, sexual, etária, cultural…). Mas, além e junto com isso, a ética do humano propõe a criação de condições para a vivência da plena liberdade, como única forma de fazer desabrochar o potencial e os sonhos que forma a essência de cada pessoa.