Saber tem a ver com saborear. E envelhecer é voltar ao humus do qual os seres humanos são feitos. Como sabedoria é um aprendizado, é possível preparar-se para apreciar os tempos que nos são dados para viver.
Para degustar um vinho, há um ritual que prepara as condições, ambientais e psicológicas, para sorvê-lo, com o máximo de prazer. Para viver, é indispensável conhecer as possibilidades e limites de cada idade.
Uma das marcas dos idosos, em nossa sociedade, é sua invisibilidade. Mesmo depois das conquistas que garantem dignidade e direitos, eles são esquecidos porque velho traz a conotação de atrasado, inútil e descartável.
Já a ideia de jovem rima com vida, com potência, promessa, status, virilidade… Então, para escapar da caduquice se criou a fantasia da eterna fonte de juventude e, com ela, a indispensável indústria do rejuvenescimento.
Por isso, para remoçar, o mercado oferece milagres em recauchutagem. A ditadura da aparência naturalizou a necessidade de uma infinidade de produtos, de tal modo que, quem não faz uso deles se passa por careta.
No entanto, o pavor de envelhecer é real. Na atual civilização a velhice é vista como objeto da caridade e da assistência social. Até a aposentadoria já tem um sabor de castigo e de isolamento para quem já não serve.
Como rende imagem e votos, em geral, se criam palavras e políticas, como se fossem reconhecimento. Por isso, muita gente, em quase tudo carente e abandonada, prefere acreditar que sua terceira idade é a melhor idade.
Um olhar mais profundo, porém, mostra que o jeito de encarar a idade esconde formas diferentes de olhar o mundo. Tem gente que vê, no fim da larva, só a lagarta, outros, preferem ver nela o anúncio de uma borboleta.
Essas visões revelam o medo da finitude da matéria e a vontade de eternizar-se. Nesse clima fértil, nascem profetas e charlatões cujo ofício é pregar a reincarnação, a imortalidade e as várias formas de ressurreição.
Seria trágico entregar-se à decadência, à depressão, à baixa autoestima e ao saudosismo, da mesma forma que viver na obsessão ridícula e contraproducente de mostrar uma vitalidade que os anos não trazem mais.
O bom jogador sabe a hora de pendurar as chuteiras, quando ainda em alta. É cômico ver um velho que, para dizer que está em forma, não aceita sentar-se no banco do ônibus cedido pela mocinha quando ela diz “sente aqui, tio”.
A sabedoria, quem sabe, consiste em encarar a vida, atuando como se tudo dependesse de nós, mas aceitar a fatalidade do fim do novelo e alegrar-se que outros cresçam enquanto diminuímos. E, como Chaplin exultar e feliz cantar:
“Vidas que se acabam, a sorrir, Luzes que se apagam, nada mais, É sonhar em vão, tentar aos outros, iludir, Se o que se foi, pra nós não voltará, jamais. Para que chorar o que passou, Lamentar perdidas ilusões, Se o ideal que sempre nos acalentou, Renascerá em outros corações”