Djanira Silva 28 de setembro de 2010

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            Quero colher a idéia madura, espalhar sementes nos caminhos não deixar que se percam feito almas penadas purgando pecados. Pecados passados, presentes, ausentes. Futuro do nada. Imagens queimadas no tempo, levadas no vento, presas no tempo. Passa, não passa, passa.
            Folhas secas, barulho de vendavais, murmúrios de um vento que vem do mar, cantigas de pássaros, enganos do pensamento que parou no ar.
            O mar me assusta. Lança espuma pelos olhos, pela boca, por todos os poros da areia macia onde as lembranças se acendem e se apagam deixando escritas nas ostras, nas conchas, história de uma saudade que circula ao meu redor e me reproduz na terra, e me envenena e me devora no horizonte.
            Contrariando meus medos me rebelo. Procuro desmentir a certeza do tu és pó. Se à terra tornarei não sei. Quem sabe um dia me desfarei no ar, em fumaça ou nas espumas do mar. Quem sabe?
            Navio naufragado, maré alta, maré baixa, vulcão.
            Lá fora o mundo me tocaia.
            Tenho um compromisso com idéia que está em toda parte a que não me deixa esquecer. Na água torno-me água, no ar me respiro, na fumaça me vou. O mundo entrega-me a face envelhecida. O tempo brinca de se esconder.
            Um ciclo que não tem fim nos corredores da velha casa. Sofro da solidão de quem pensa. Vejo o retrato na parede, sempre triste. Os espelhos não sabem de mim, de ti, das espumas do mar, das promessas do vento, dos lugares de ir e voltar. Estamos sempre indo e voltando.
            Não tenho medo de te perder, a saudade te encontrará.
            O chão de madeira geme, chora infâncias esmagadas.
            Cadeiras fantasmas balançam o vento.
 

Obs: Texto retirado do livro da autora – A Morte Cega

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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