Dannie Oliveira 14 de setembro de 2010

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Encontrou-a aos beijos naquela esquina a poucos quarteirões de casa; a alguns metros de onde aconteceu o primeiro beijo entre os dois. Baixou a cabeça e seguiu adiante. Quis olhar para trás para ver se ela tinha notado ele. Não percebeu. Sentiu-se pior ao ver a cena seguinte, ela afagando os cabelos negros, não os seus, mas o dele, o desconhecido. Morreu um pouco por dentro.

As coisas começaram a ficar ruins depois que ele entrou em casa e ouviu ‘Regra Três’ do Toquinho no som. Imaginou que era somente uma música qualquer escolhida pelo sistema aleatório do MP3, mas depois veio “Olho nos Olhos”, “O mundo é um moinho”. Passou para o quarto e fingiu que não ouviu. Não conseguiu. Voltou e apertou o botão de STOP. Ela apareceu na porta da cozinha. Soltou um ‘Ah! É você…’

Desanimado. Ele esboçou um sorriso sem graça e disparou um ‘Desculpa. Estou com dor de cabeça’.

Quem era aquele cara com ela afinal? Não se recordava dele entre os amigos dela. O que ela tinha visto nele? Ela o trocou por outro. Logo ela! Não aceitava. Era difícil. Preferia acreditar que tudo não passava de um grande equívoco. Ela ia voltar. Ia sim. Seriam felizes. Ele ia casar com ela. Não era isso que ela queria? Não a deixaria mais partir.Teriam filhos. Um cachorro. Uma casa no campo.Tudo o que ela quisesse.

Ele sabia que as coisas não estavam bem. Preferiu trabalhar mais, pelo menos assim não precisava encarar a derradeira conversa. E foi assim até o dia em que chegou a casa e viu que ela tinha partido. Era tarde demais. Levou os sapatos, as roupas, as bolsas, a coleção de batons, cremes e perfumes que ele odiava e dizia que ocupava o armário (agora era estranho vê-lo vazio). Deixou as fotos. As da sala. Do quarto. Do escritório. Deixou comida pronta na geladeira para quando ele chegasse. Bolo de chocolate com castanha. Era irônico encontrar algo que adorava tanto numa despedida. Ela tinha ido embora. Ele estava só.

Será que ele sabia roçar a barba na nuca dela de leve para não arranhar? Será que ele sabia que ela tinha cócegas nos pés, mas que adorava receber beijinhos neles? Será que ele a admirava-a enquanto ela tomava banho? Será que ele percebeu o charme que ela fazia embaixo do chuveiro enquanto deslizava o sabonete pelo corpo? Será que ele sussurrava Cazuza ao seu ouvido quando ela acordava e se espreguiçava feito um gatinho na cama? Será que ele percebeu a mulher maravilhosa que estava do seu lado. Porque somente agora ele atentava para tudo isso?

A vida corre … às vezes depressa demais.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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