PARTE II: INFLUÊNCIA DO SUJEITO NO OBJETO
Em regra, nós somos mesmo diferentes dos objetos que estudamos, embora não sejamos desprovidos da capacidade de influenciar o modo de ser do objeto analisado. Digo isso porque existe um argumento que, se por um lado não pode ser esquecido, por outro, não precisa de maiores detalhamentos neste texto, pois não precisarei dele para o ponto central, que quererei demonstrar no transcorrer do artigo.
O argumento que precisa ser apreciado, embora de forma não tão pormenorizada, conforme já disse, é o que diz que nós (sujeitos) inevitavelmente exercemos influência naquilo que analisamos (objetos). Isso se dá de tal maneira que qualquer estudo sobre algo será um estudo sobre alguma coisa contaminada pelo próprio sujeito. Não é que sujeito e objeto sejam a mesma coisa, mas sim que, no processo do estudo, aquele inevitavelmente influenciará este, ou seja, o sujeito influencia a experiência que realiza com o objeto de tal forma que o estudo do objeto será, na realidade, o estudo de um objeto influenciado por aquele que o estuda.
Não sei se fui suficientemente claro, razão por que proponho que imaginemos que alguém está olhando para um copo sobre uma determinada mesa. Saber como é o copo, suas características e qualidades, sempre será saber como a pessoa descreverá o copo e não como ele, o copo, é em si, independentemente da pessoa. Só para dar um exemplo, a depender da miopia ou astigmatismo da pessoa, o copo será de uma forma ou de outra, isso sem falar em outras características peculiares de cada um, tão importantes quando analisamos objetos com o intuito de lhes atribuir conceitos mais rarefeitos como “bom”, “bem elaborado”, “memorável”, etc.
É bem verdade que tentei ser bastante introdutório nos três últimos parágrafos, já que a questão da correlação entre sujeito e objeto pode adquirir feições bem mais complexas, tais como as correlacionadas com as visões fenomenalistas, idealista e mesmo as realistas mais elaboradas. Por ora e para que tenhamos apenas uma noção da importância do que se fala, penso que vale lembrar alguns fatos da ciência. Entre tais, veja que a própria Teoria da Relatividade é em grande parte baseada na idéia de que o sujeito influencia a experiência, noção já presente nos chamados referenciais galileanos. As ciências duras tiveram de lidar com tal conceito, assim como as demais. As próprias ciências humanas e sociais gradativamente abandonaram a idéia da objetividade pura na análise e passaram a tentar equacionar as inevitáveis contaminações promovidas pelos sujeitos nos objetos estudados.
(*) Tassos Lycurgo é Professor Adjunto da UFRN e Advogado (OAB/RN); É Doutor em Estudos Educacionais – Lógica (UFRN), com pós-doutorado em Sociologia Jurídica (UFPB); Mestre em Filosofia Analítica (University of Sussex, Reino Unido); Graduado em Direito (URCA) e em Filosofia (UFRN). Atualmente, leciona as disciplinas Direito Processual do Trabalho e Elementos de Direito Autoral e Legislação Social na UFRN. Página Acadêmica: www.lycurgo.org
Obs: A PARTE III será postada no próximo dia 28