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Visitando o Peru com minha irmã Suely Telma, descobri que na cultura Inca há uma prevalência do sagrado, difundida na natureza e que está registrado nas múltiplas manifestações líticas daquele povo. Os guias são bem formados e retratam com bastante fervor, a história do seu povo atualizada de forma didática e ressaltando os valores telúricos.

O Peru é o terceiro maior país da América Latina, ao lado do Brasil e da Argentina. A Cordilheira dos Andes atravessa o país de norte a sul, formando diversas regiões geográficas , com diferentes climas e uma variedade de altitudes. Fomos transportados do nível do mar até quase 5.000 metros de altitude. A divisão geográfica mais genérica divide o país em três zonas : a região desértica , a cadeia de montanhas entremeada de muitos vales (um desses é chamado de Vale Sagrado, devido à fertilidade e rios que contém), e a vertente oriental da selva amazônica.

De acordo com dados mais recentes a população chega a uns 30 milhões de habitantes. Só na capital há cerca de 10 milhões de habitantes, com os problemas comuns das grandes cidades. Quase 40% da população está abaixo do nível da linha de pobreza. É lamentável essa situação, pois no tempo dos Incas não havia índio pobre, isto é, ao lado da zona urbana sempre havia a zona rural. Os famosos terraços para as plantações nas encostas das montanhas eram chamados de “andenes”, daí vem a denominação da própria Cordilheira dos Andes. Eles desenvolveram uma grande variedade de culturas agrícolas. Os Incas eram regidos por um princípio triádico que regia a vida deles: não mentir, não roubar e não ser ocioso. Havia trabalho até para crianças e velhos: espantar os pássaros das plantações, debulhar as espigas de milho, por exemplo. O cultivo das encostas, as múltiplas construções, tudo reflete o espírito de trabalho deles, o nível de alimentação. A batata chamada por nós de “inglesa” é planta nativa daquela região. Lá existem mais de três mil espécies. O milho também foi encontrado pelo conquistador e há mais de 20 tipos diferentes, inclusive um de cor quase negra com o qual se faz um saboroso suco com gosto de uva. O milho é usado como um complemento essencial nas refeições, substituindo o arroz, o feijão, o macarrão.

Com relação à língua, 80% da população falam o espanhol, os demais 20% falam o queschua (a língua dos Incas), o aymará e outras línguas nativas amazônicas. O importante a ressaltar nisso é que grande parte dos que falam espanhol, conservam a língua queschua ou alguma outra língua nativa.

Mas a história do Peru é muito rica e antiga. A atual área já foi habitada há mais de 20 mil anos por grupos de caçadores que depois se tornaram coletores, tal como é demonstrado por diversas evidências líticas. A partir daí se desenvolveram várias sociedades “primitivas”, entre os anos 6.000 e 3.000 a.C. Pouco a pouco esses grupos conseguiram desenvolver a agricultura e a domesticação de animais. Dessa forma, esses grupos se estabeleceram de maneira sedentária. Mil anos antes de Cristo teve início as grandes e antigas civilizações que surgiram no Peru. A cultura Chavin Departamento de Ancash, é considerado como a cultura matriz peruana. Seguiram a essa as culturas Paracas, Moche, Nasca, Tiahuanaco, Wari, Chimu (considerada uma das mais importantes), e, finalmente, o grande Império Inca. Os Incas se desenvolveram entre 1.200 a.C. até a chegada dos conquistadores, sendo a data considera simbólica para o último Inca, 1535, quando esses declinaram diante dos espanhóis. Eles se estabeleceram em Cusco, a capital do Império e dali conquistaram várias regiões, chegando a expandir-se por vários países da América do Sul. Os Incas alcançaram um alto nível de organização social e política, com conhecimentos de arquitetura, astronomia e agricultura que intrigava os conquistadores e ao conhecimento dos nossos dias.

O universo religioso dos Incas era regido por três dimensões: a primeira era a do céu, e tinha como animal simbólico o condor; a segunda era a da terra, simbolizada pelo pulma; e a terceira era a serpente, que representava as profundidades da terra, isto é, o lugar dos ancestrais. No seu culto religioso, eles adoravam o sol, a lua, as estrelas , os raios e os trovões. Nas construções, especialmente nos templos, privilegiava-se a entrada do sol, isto é, eram idealizadas na direção do nascente. Havia em Machupichu, a Cidade Sagrada (destinada à formação das elites dirigentes, dos sacerdotes, das virgens consagradas), havia o culto ao sol. Tanto que, com o nosso grupo de visitantes, lá chegando na hora do nascer do sol, assistimos e participamos dessa homenagem ao sol nascente: todos ficamos de braços estendidos na direção do sol que nascia por entre a neblina das altas montanhas que circundam aquela Cidade Sagrada.

Sebastião Heber. Professor Adjunto da UNEB, da Faculdade 2 de Julho, da Cairu,Membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e da academia Mater Salvatoris.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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