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Se o presente é uma dança eterna com o impermanente, essa é para os que se recusam a entrar nesse ritmo. Pois uma grande parte das pessoas parece se dividir entre as que vivem no passado, e as que vivem no futuro. No presente, poucas se atrevem.

Entre as que insistem em viver no passado existem três tipos: aquelas que antes tinham uma boa situação financeira e, de uma hora para outra, tudo ruiu e o que restou foi ficarem ilusionadas nos prazeres e delícias de outrora; aquelas que por uma forte e marcante desilusão amorosa na juventude, não conseguiram seguir adiante inteiros, ou seja, vivem fechados e agarrados às boas lembranças do que viveram, entorpecidos pelo antídoto embriagador do ideal do mítico amor romântico de Tristão e Isolda; e aquelas conservadoras e radicais, que por terem pouco estudo – mesmo que isso não se aplique a todas – e defenderem com unhas e dentes as tradições e valores da sua geração, não conseguem assimilar o mundo atual, rápido em suas mudanças de conceitos e valores.

Quanto às que vivem no futuro, também há três espécies: aquelas que passam todo o tempo de suas vidas amargando o presente e não vendo nada de proveitoso nele, esperando sempre algo melhor que virá somente com o futuro. Para uns, são os pessimistas de plantão; aquelas sonhadoras que parecem viver sempre com a cabeça nas nuvens, sem se importarem com nada e sempre alheias a tudo o que os rodeiam; e os cientistas e gênios, visionários que por excesso de visão ou inteligência deixam a impressão de estarem sempre um século à frente dos seus.

Sabemos que os desafios de se viver no presente não são poucos. A realidade, às vezes, é mesmo algo insuportável. Seja pelos nossos medos e fraquezas íntimas (e todo mundo tem o seu inferninho interior, como também seu paraíso), seja pelas mazelas sociais cada vez mais escancaradas nos meios de comunicação, causadas em grande parte pela ausência do Estado no cumprimento de suas obrigações, e o nosso cada vez mais crescente sentimento de impotência diante de tudo isso.

O ideal mesmo seria a gente poder dosar a ansiedade do futuro vivendo o agora, mas sem esquecer do amanhã, e não ficar amargando ou remoendo o passado. Mas, de vez em quando, buscar neste a força e a orientação para continuarmos e errarmos o menos possível.

E, por fim, viver o hoje com intensidade e alegria. Afinal, o presente, como já diz o termo de origem latina, já tem esse nome porque é em si mesmo uma oferenda, um dom, uma dádiva. Só assim, acredito, poderemos vivê-lo dançando harmoniosamente com o impermanente.

Obs: Texto retirado do livro do autor – Surtos & Sustos

 Imagem enviada pelo autor

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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