A MÁRTIR ANTECIPADA DO 2 DE JULHO

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A luta pela independência na Bahia começou antes mesmo do 7 de setembro de 1822, quando foi proclamada a independência. No mesmo ano, em 25 de junho, a Vila de Cachoeira assistiu a um dos primeiros levantes contra a presença das tropas portuguesas na Bahia que mostraram hostilidade à aclamação de D. Pedro de Alcântara como Regente e Defensor perpétuo do Reino do Brasil. Foi nessa data que o General Madeira de Melo ordenou o disparo do primeiro tiro de canhão, da esquadra enviada para fechar o porto da Vila. No dia seguinte, os brasileiros organizaram a Junta Interina para resistir aos ataques .Logo prenderam o Capitão e 26 marujos da escuna portuguesa e reafirmaram a proclamação de D. Pedro. Depois disso, o povo baiano continuou em luta, especialmente nas Vilas do Recôncavo.

Todos os anos, a luta pela independência é lembrada nas ruas da Bahia, especialmente, de Salvador,num desfile cívico que refaz o trajeto do Exército Libertador em 2 de julho de 1823. Os heróis, a batalha, o folclore, o patriotismo e os personagens históricos fazem parte do cortejo que percorre cerca de 5 quilômetros. Depois de quatro dias, acontece o retorno da Cabolha e do Caboclo no trajeto inverso ao desfile do 2 de Julho. Os carros levam os símbolos da festa e são acompanhados por fogos e bandas de sopro e percussão.

Na Bahia, e para todo o Brasil, uma das figuras marcantes da grande celebração da Independência confirmada naquela cidade, é a da religiosa Joana Angélica, que deu sua vida pelas causas libertárias. Ela é sempre recordada nessa data, através de muitas celebrações cívicas, é, também, muitas vezes, tema de desfiles, como as alegorias que sublinham esse momento histórico.

Joana Angélica era filha de José Tavares de Almeida e sua esposa, Catarina Maria da Silva. Aos vinte anos de idade, a 21 de abril de 1782, entrou para o noviciado no Convento de Nossa Senhora da Conceição da Lapa, na capital baiana.Ali exerceu várias funções: foi escrivã, mestra de noviças, conselheira, vigária e, finalmente, abadessa.

Ocupava a direção do Convento, em fevereiro de 1822, quando a cidade ardia de agitação contra as tropas portuguesas do brigadeiro Inácio Luís Madeira de Melo – que tinham vindo para Salvador desde o Dia do Fico.

Grande resistência opunham os nativos baianos; no ano anterior (1821) a cidade já tinha sido palco de revoltas. A posse de Madeira de Melo tinha sido obstada, em 18 de fevereiro, mas a superioridade das forças do Brigadeiro impingiram a derrota dos nativos.

Soldados e marinheiros portugueses se embriagam e cometem excessos pela cidade, comemorando e, a pretexto de perseguir eventuais “revoltosos”, atacam casas particulares e, continuando a sanha desenfreada pelo dia seguinte, tomam as ruas e dirigem-se ao Convento da Lapa.

Sólida construção colonial, ainda hoje existente na Capital Baiana, o Convento da Lapa compõe-se de uma clausura, cuja principal entrada é guarnecida por um portão de ferro.

Os gritos da soldadesca são ouvidos no interior. Imediatamente a Abadessa, pressentindo certamente objetivos da profanação da clausura, e delas próiprias, ordena que as monjas fujam pelo quintal.

O portão é derrubado e, num gesto heróico, Joana Angélica abre a segunda porta, postando-se como último empecilho à inusitada invasão.

Conta a tradição, reproduzida por diversos historiadores, que então exclamou:

“Para trás, bárbaros. Respeitai a Casa de Deus. Antes de conseguirdes os vossos pérfidos desígnios passareis por sobre o meu cadáver.”

Abrindo os braços, num gesto comovente, tenta impedir que os invasores passem. É, então, assassinada a golpes de baioneta – penetrando no sagrado recinto, onde encontram apenas o velho capelão, Padre Daniel da Silva Lisboa – a quem espancam a golpes de coronhas, deixando-o como morto.

Joana Angélica tornou-se, assim, a primeira mártir da grande luta que continuaria, até a definitiva libertação da Bahia, no ano seguinte, a 2 de julho, data efetiva da Independência da Bahia.

Sebastião Heber.Professor Adjunto de Antropologia da UNEB,da Faculdade 2 de Julho. membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e da Academia Mater Salvatoris.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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