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“Você faça o que quiser de sua vida, contanto que não se case com uma católica – disse-me minha bisavó, num dos raros momentos de lucidez durante a última doença – mas foi exatamente o que depois eu fiz.” revela o ex-primeiro-ministro britânico, Tony Blair, que ocupou por dez anos o famoso número 10 de Downing Street em Londres, residência oficial dos primeiros ministros da Grã-Bretanha. A curiosa declaração aconteceu na entrevista ao jornal do Vaticano L´Osservatore Romano, que começa sendo o entrevistado definido pela repórter, Giulia Galeotti, como um gentleman, educado, sorridente, cortês, como poucos

Sua caminhada rumo ao catolicismo demorou 25 anos ou mais, diz ele. Pai ateu e mãe protestante irlandesa, fortemente anti-catolica, mesmo se pouco praticante, Blair conheceu sua futura esposa como ativa participante de uma organização estudantil católica. Já na universidade, ele sentiu que a fé cristã era aspecto não só importante, mas absolutamente central na sua vida. Quando deixou o governo, estava convencido de que “a católica era a casa certa para ele”. Em nossa cultura midiática, explicou, se um líder político começa a falar publicamente de fé a primeira reação é de suspeita. O que preocupa os britânicos, acrescentou, é o fato de que um político “possa querer pedir Deus emprestado para a campanha eleitoral.”, Era, porém, evidente o fato de que por muitos anos, ele ia à missa todas as semanas, batizara na Igreja católica seus quatro filhos e os três mais velhos ainda hoje são católicos praticantes – “felizmente!” exclama ele. E o menor, Leo, estuda numa escola católica. “A fé foi sempre uma parte importante na vida de nossa família” – explica Tony.

Em 2003, Tony Blair teve a ventura (diz ele) de participar com sua família de uma missa celebrada por João Paulo II em sua capela particular. Foi uma etapa importante que fortaleceu sua decisão. Uma das coisas que mais o atraiu na Igreja Católica – afirma ele – foi sua natureza universal. Conta que uma vez em Tóquio participou incógnito de uma celebração. No final, uma senhora convidou os visitantes a se apresentarem e ele teve de dizer: “Sou Tony, de Londres” – foi uma boa surpresa, disse rindo.

Agora como católico, sem cargo político, ele mantém a Tony Blair Faith Foundation, que tem por meta demonstrar ao mundo moderno que a fé é uma força poderosa que estimula ao bem. Sua Fundação pretende promover o respeito e o conhecimento das grandes religiões – cristã, muçulmana, hindu, budista, judaica. Na África, ela trabalha para que todas as religiões estejam unidas para combater a malária, que cada ano mata no continente negro, um milhão de pessoas, especialmente crianças.

“Ocupamo-nos também – revela Blair – da mudança climática, porque estou convicto de que o respeito pelo meio ambiente para as gerações futuras faz parte de nossa responsabilidade de cristãos”.

Esse é o jovem político inglês, que assumiu sua fé católica como uima responsabilidade de sua vida e afirma com coragem e convicção: “A fé tem pleno direito de entrar no espaço político e que sua voz não esteja ausente do debate público – pensemos em temas como a justiça e a solidariedade entre as nações”. E acrescenta com ênfase: “A Igreja Católica segue a verdade de Deus e penso que aquilo sobre o que o Papa se empenha tanto é procurar fazer compreender que isto é uma obrigação cristã. Não por acaso o Papa ensina que um humanismo sem Deus é desumano”.

(*) É arcebispo emérito de Maceió

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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