Rômulo Viana 29 de junho de 2010

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Confesso que quando li pela primeira vez a epopéia grega do destemido personagem Ulisses, pensei ter concebido a noção de Herói: aquele guerreiro que ignora o perigo, o homem que se doa a uma causa nobre e por isso é notável por seus feitos e sua valentia. Pensei serem essas as características do homem heróico. E na verdade o são. Ou melhor, eram.

Como mudam-se os tempos e com eles, também, os paradigmas e as vontades, mudaram-se assim os “tipos” divinizados, hoje, tidos como heróis. Se no tempo do nosso Odisseu (homem que durante dez anos ficou a mercê da vontade dos deuses enquanto tentava retornar para Ítaca) o que se levava em conta, para atribuir a um homem um fato heróico, era a valentia deste perante uma situação de perigo. Hoje, Ulisses deixaram de existir e deram vida a grandes atores que encarnam a valentia das epopéias gregas, as sacrificantes participações nos BBB´s da vida, os grandes mitos do futebol…

O Olimpo era o grande cenário teatral de onde os deuses faziam de fantoches os homens que habitavam a terra mortal. E o heroísmo quase sempre nascia de uma ação humana que desobedecia a uma vontade divina. O nosso Olimpo de hoje é a nossa querida televisão: cria valorosos heróis e nós os saudamos como exemplo a seguir. Qual o jogador amador sensato que não queria ter a majestosa habilidade do Rei do Futebol? Ou a dona de casa que não gostaria de ser uma Helena de Manoel Carlos? Ou a jovenzinha que não gostaria de estar ao lado do grande cantor do momento? A nossa televisão é o nosso grande espelho e mágico: espelho, espelho meu, existe um herói mais valoroso do que o meu? (do que o meu pai… minha mãe…). E ela responde: os Globais… E é até verdade, pois eles cantam, dançam, sapateiam, imitam bichos e até visitam favelas ou a Amazônia.

E na contramão disso tudo os verdadeiros: o pobre que encontra uma maleta cheia de dólares no banheiro da estação do trem e, ainda sim, continua pobre; a mãe faxineira que consegui, faxinando pela vida, por três filhos numa Universidade Federal; e os Bombeiros, homens que pela vida, sacrificam suas próprias vidas. Mas quem irá se espelhar nestes?

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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