Laudi Flor 15 de junho de 2010

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Enquanto esperava a chuva fina passar, pensou no inusitado convite que tivera para integrar a equipe “médicos sem fronteiras”, avaliou sua situação financeira, pessoal, sentimental.

Seus objetivos em estudar medicina, foram acalentados durante anos e lembrara o juramento que fizera na formatura, diante dos colegas e da família. Podia simplesmente esquecer o compromisso com a vida do próximo, e se fixar apenas em sua própria vida, sabia que sua família detinha algumas posses e que não teria problemas em permanecer no Brasil e montar seu próprio consultório.

Conhecia bem o desafio diante de tantas tragédias mundiais climáticas, terremotos, tsunamis, inundações, desmoronamentos, mortes, desamparo da população atingida, sofrimento, mas também teria a oportunidade de se aperfeiçoar na área escolhida, servir a humanidade, viver novas emoções, conhecer outras pessoas, credos, idiomas.Garota bem nascida em bairro de classe média alta na zona sul do Rio de Janeiro, era acostumada ao bem bom, carro do ano, roupas de marca, cabelo da hora, uma vidinha de baladas, amigas patricinhas, praia, festas, reuniões… Não sabia se realmente gostaria de abandonar tudo isso em nome de um ideal nobre.

Decidiu caminhar sem rumo na chuva, os pingos molharam sua roupa, seus cabelos, os sapatos encharcaram, a maquiagem foi embora.

O convite martelava suas idéias, o tempo para decidir era curto, não podia esquecer o quanto seria útil a si mesma e a humanidade, mas mesmo assim teve dúvidas!

Entrou num café, pediu um cappuccino, continuou a visualizar mentalmente o que seria sua vida caso aceitasse o convite.As horas corriam e cobravam de si mesma uma resposta.

O prazo se exauria!

Comprou uma sombrinha no camelô, apressou o passo e atravessou a rua, olhou a vitrine de roupas brancas incompatíveis com a chuva, mas compatíveis com a profissão.Dirigiu-se ao escritório onde lhe aguardavam com a decisão, cumprimentou a secretária, aguardou uma eternidade até ser recebida.Entrou na sala, observou a decoração, os adornos, os tapetes e finalmente levantou-se foi até a mesa onde se encontrava a pessoa responsável,cumprimentou-o cordialmente,agradeceu o convite e a oportunidade que estavam oferecendo, mas infelizmente não podia aceitar por motivos que não quis declinar.

Desceu até a rua, viu que ainda estava chovendo, não abriu a sombrinha, tomou um táxi e pensou: ” Amanhã tenho que ir ao cabeleireiro!”

Obs: Imagem enviada pela autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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