Djanira Silva 31 de maio de 2010

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Os velhos quintais ainda hoje estão presentes nas lembranças guardadas. Coisas aparentemente sem importância encheram de encanto e magia minha infância.
Um gato dorminhoco enroscado junto ao fogão de carvão; minha velha, querida e miudinha avó pitando o seu cachimbo acocorada junto ao gato.
Ai que saudade das estrepolias e diabruras que eram consideradas ruindade de menina má que não tinha o que fazer. Mas, sempre pensei que era feliz. Mesmo quando tomava tremendas chineladas e ia chorar atrás da porta e pedir a Deus que minha mãe morresse, tal a raiva que tinha de apanhar. Pior do que a pancada era o remorso que sentia na hora de dormir, por haver pensado tal coisa. Mas, me ensinaram que se a pessoa pecasse e pedisse perdão, Deus perdoaria. Assim, logo à noite me penitenciava de tais pensamentos. E virou um circulo vicioso: pecar, pedir perdão e ser perdoada. Por conta disso não fazia outra coisa. Estava sempre em “estado de graça.”
Minha mãe reclamava e brigava por tudo, aliás, todas são iguais mudam apenas de endereço. Cada filho era considerado um castigo e muitos ou quase todos vieram por “descuido” e para “desconto do pecados.”
Eu mesma, fui uma dessas penitências que Deus mandou, acredito, que cumpri muito bem meu papel. Fui penitência para homem nenhum botar defeito. Só por conta do meu desempenho acredito que minha mãe, meu pai, minha avó, as freiras, as professoras, aliás, um mundão de gente, está todo no céu.
Volto às velhas casas. Revejo os velhos quintais. Os velhos esconderijos em cima da mangueira, do pé de romã que de tão esguio mal nos escondia. A saudade que sentimos em certas ocasiões, é a energia que emprestamos às coisas.
As pessoas ficam adultas e esquecem que foram crianças. Envelhecem, e passam a ver maldade em tudo. Ficar velho e honesto é uma marca registrada de quem não soube viver.
A vida de toda criança – do meu tempo, pelo menos – começou num fundo de quintal. Mais tarde, pouco a pouco lembramo-nos de uma mesa com o bule de café fumegante, tomamos conhecimento da sala de visitas, chegamos até a porta e, finalmente, à calçada para, então, ganhar a rua e o mundo. Mas tarde, gradativamente, vamos retornando e nada melhor do que uma rede no fundo do quintal para embalar nossas lembranças.
Hoje, revendo alguns destes quintais, os quais em sua maioria, existem apenas em nossas lembranças, retrocedemos no tempo e no espaço, ficamos crianças outra vez.
Quem dera possuísse ainda, um quintal mágico cheio de recordações, levasse palmadas, brincasse com terra, dormisse feliz.

Obs: Texto retirado do livro da autora – A Magia da Serra

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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