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Um dos mais preciosos bens do ser humano, o silêncio, virou peça de antiquário. Não o encontramos mais. A sociedade deste início de século perdeu esse bem ainda com os forjadores do Século XX, que inventaram praticamente tudo o que nos propicia conforto e suprimento, incluindo as tonitruantes toneladas de barulhos dos mais diversos.

Aqui em Gurupi, cidade com cerca de setenta mil habitantes, mas a terceira maior do mais novo estado brasileiro, Tocantins, a paranóia do barulho chega a extremos. Tanto, que ao entrar numa loja para olhar um produto, no momento em que o carro de propaganda sonora passa em frente à mesma, ficam o cliente e o vendedor feitos dois abobalhados, ambos sem conseguir falar e muito menos ouvir. Detalhe: geralmente é a própria loja que anuncia no estrondoante veículo de comunicação.

Nos bares e restaurantes não é muito diferente. Quando não é o som alto demais do próprio estabelecimento – que deveria ser ambiente, não? – é um automóvel de um cliente transformado numa verdadeira picape de som, com tijoladas e tijoladas de watts de potência, despejando uma metralhadora giratória sonora, a qual o dono do mesmo considera como música de qualidade, o que já é uma outra discussão. Nas igrejas, a maioria delas, há muito se confunde religar com amplificar. Será que Deus, além de velho, estaria ficando surdo? Quanto ao limite de 88 decibéis permitidos pela lei, esta, além de cega, parece que também está ficando meio surda.

Mas a verdade é que o silêncio nos assusta. Nunca o suportamos. Pois, encará-lo é o mesmo que batermos de frente com os nossos medos e fraquezas. Por isso, estamos sempre cercados de muito barulho.

E você? Já experimentou sair do barulho do dia-a-dia e escutar-se a si mesmo? Perguntar-se quem é? Do que realmente gosta? Ou do que gostaria de ser? Mas, você pensa melhor (e sempre pensa que pensa melhor!) e chega à conclusão de que o seu grupo social só o aceita com a sua máscara. E lá vai você outra vez travestido de outro para agradar aos demais. Por outro lado, lembre-se: o silêncio pode lhe revelar forças e poderes que você não conhecia ou julgava já tê-los perdidos.

Por fim, tanto barulho só pode ser explicado pela trágica máxima do naturalista austríaco Konrad Lorenz, que certa vez disse: “a necessidade cada vez mais aguda de ruído só se explica pela necessidade de sufocar alguma coisa”. Então, o que estamos tentando sufocar com tanto barulho mesmo?

Obs: Imagem enviada pelo autor.

Texto retirado do livro do autor – Surtos&Sustos

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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