De 03 a 13 de maio, a CNBB realizou sua 48ª assembléia geral, em Brasília, seguida do 16º Congresso Eucarístico Nacional, também em Brasília. Os dois acontecimentos tinham entre si um elo evidente, que os unificava no mesmo objetivo que determinou o lugar de sua realização: a homenagem a Brasília, por seus 50 anos.
Na verdade, a intenção era mais ampla. Realizando neste ano na capital do país sua assembléia, e aí celebrando o Congresso Eucarístico, a Igreja quis ressaltar os muitos motivos que ela tem para sentir-se vinculada à história do país, com o qual se identifica de tantas maneiras.
Mais que palavras, valeu o fato. Mesmo que na declaração política, aprovada pela assembléia, se mencione diversas vezes o aniversário de Brasília, por seu gesto a Igreja procurou acenar para uma identificação que vai perdendo força, e para um distanciamento que causa angústia. Em meio a um contexto cultural de pluralidade, também de expressões religiosas, a Igreja Católica quer se pautar pelo serviço que consegue prestar ao povo brasileiro.
Por aí se entende a composição da pauta, com assuntos que demandariam muito mais tempo para serem abordados com serenidade.
O tema central, enunciado como “Discípulos e Servidores da Palavra de Deus e a Missão da Igreja no Mundo”, queria acolher as orientações do Sínodo sobre a Palavra de Deus, realizado em 2008. Como o documento do Sínodo, de responsabilidade do Papa, ainda não foi publicado, a assembléia logo percebeu que não cabia antecipar um assunto, sobre o qual o Papa ainda vai se pronunciar. Assim o tema central acabou se reduzindo a uma breve mensagem, que se limita a recomendar a animação bíblica de toda a pastoral, e aguardar a publicação do documento do Papa. Com isto, a pauta ficou mais aliviada, e a assembléia pôde dedicar mais tempo a outros assuntos, que exigiam muita atenção.
Um deles também ficou a meio caminho. Foi o texto sobre a “Igreja e a Questão Agrária no Início do Século XXI”. Não houve tempo para analisar esta questão em profundidade, e ficou decidido que o texto ainda passará por modificações, para ser futuramente publicado como assunto de estudo, até se chegar a um consenso sobre a problemática que ele apresenta. Além de realista, a solução deixa entrever que não é mais muito fácil a CNBB expressar consensos em torno de temas complexos como a questão da terra.
Outro tema que pesou por sua complexidade, e pelas evidentes diferenças de enfoques por parte dos bispos, se referia ao PNDH3, o “plano de direitos humanos”, que o atual governo apresentou para ser debatido pela sociedade, em continuidade, de resto, com os dois planos anteriores. Como no referido plano há pontos em evidente contraste com a Doutrina Social da Igreja, como o aborto e outros, foi difícil para a assembléia chegar a uma declaração equilibrada, em que se reconhecem os avanços do plano, ao mesmo tempo em que se mantém a discordância em torno dos mencionados assuntos.
Mas a assembléia não ficou só em torno de assuntos polêmicos, como o escândalo da pedofilia, que foi amplamente debatido, e para o qual a própria Presidência da CNBB se reservou a tarefa de fazer uma declaração em que assume a posição da Igreja sobre o assunto.
Dois temas representaram o fruto maduro da reflexão feita pela CNBB: as orientações para a formação presbiteral, e o documento sobre a caminhada das Comunidades Eclesiais de Base.
O acúmulo de trabalhos, somado aos inevitáveis deslocamentos diários dos bispos, espalhados por Brasília, deram a tonalidade desta assembléia, feita em homenagem a Brasília. Já tinha sido realizada uma em 1970, pelo mesmo motivo. Alguém lembrou que dos bispos titulares daquele ano não sobra mais nenhum. Advertidos disto, certamente tão logo não se marcará outra assembléia da CNBB em Brasília!