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Fugira um prisioneiro do pavilhão 14 do campo de extermínio de Óswięcim – Polônia, em fins de julho de 1945. Conforme regra estabelecida pelo comando nazista, em represália, deveriam ser sorteados 10 prisioneiros daquele bloco, para serem enviados ao bunker da morte e lá deixados para morrerem lentamente de fome, porque nenhuma alimentação ou bebida lhes seria fornecida. Quando o coronel tirou a sorte do último condenado, ele gritou desesperado::“Meu Deus! Meu Deus! ai de minha mulher e de meus filhos!” Logo saiu da fila um dos prisioneiros, o de número l6670 que, com voz serena, exclamou: “Sr. Comandante, faço-lhe um pedido: deixe-me morrer em lugar deste homem.” E apontou para Francisco Gajowniczek, o pai-de-família escolhido.: “Que está dizendo este porco de polonês?”, indagou o coronel Fritsch ao seu ajudante de ordens e intérprete, o qual respondeu: “Ele está pedindo para morrer em lugar deste último condenado.” E o Fritsch com rispidez: “Quem é você?” A que, o Frei Maximiliano, número 16679, respondeu com serenidade: “EU SOU UM PADRE CATÓLICO! Quero morrer no lugar deste homem. Não tenho mulher nem filhos; além disso, estou velho e não sirvo mais para nada.” Fritz rosnou com frieza: “Pode ir…” E os dez homens lentamente se encaminharam para uma sala, pequena e escura, no subterrâneo do bloco 11. Aí deviam ficar abandonados, até morrerem de inanição. Visitei esse lugar tenebroso em 1989, com meu irmão e amigo, Dom Ceslau Stanula, hoje bispo de Itabuna.

Maximiliano venceu o ódio com o amor. Deu sua vida para salvar a vida de um pai de família. Quando criança, vira, na igreja de sua paróquia, a Virgem Maria ofertar- – lhe duas coroas para escolha:, uma branca e uma vermelha.. Ele estendeu as mãos para ficar com ambas; pronto a conquistar a coroa da pureza com a coroa do martírio.

Ainda jovem seminarista franciscano, criara em Roma, em 1917, a Milícia da Imaculada, que marcou sua existência e seu apostolado sacerdotal. Em junho de 1927, já em sua terra natal, a Polônia, com uma saúde sempre frágil, construiu a Cidade da Imaculada, com o maior convento do mundo, chegando a abrigar 800 frades – atesta Frei Clemilson Teodoro, da revista “O Milite” de São Paulo – todos empenhados na impressão e divulgação da revista “Cavaleiro da Imaculada” com um milhão de exemplares e vários outras publicações marianas, sempre sob a direção de Frei Maximiliano. Tive esta revista em mãos, em 1947, em São José dos Campos, lida pelo Servo de Deus, Pe. Rodolfo Komórek.

Distinguiam-no o amor mariano, o zelo no uso dos meios de comunicação, o gênio de organizador, a habilidade jornalística e a audácia administrativa. Basta dizer que pensava em adquirir um avião para divulgar a Milícia da Imaculada em toda a Europa. Seus sonhos apostólicos foram interrompidos quando a Alemanha invadiu a Polônia. A Gestapo proibiu sua revista e começou a persegui-lo, assustada com sua liderança, acabando por enviá-lo ao campo de extermínio em Oswiecim, que os alemães chamavam Auschwitz Aí ele recebeu a coroa vermelha do martírio e do amor à família, dando sua vida da coroa branca do amor à Imaculada, na véspera da festa de Nossa Senhora, em 14 de agosto de 1945.

Foi beatificado por Paulo VI em 1971 e canonizado por João Paulo II em 1982. Em Maceió, no Benedito Bentes, está uma das primeiras igrejas construídas no mundo em sua honra, graças ao zelo, também mariano, de Dom Otávio Aguiar e que eu tive a alegria de benzer em sua inauguração.

(*) É arcebispo emérito de Maceió.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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