(Homilia no Culto Ecumênico de abertura da Campanha da Fraternidade 2010)
Recife, 20 de Fevereiro
“Este e o dia que o Senhor fez, exultemos e alegremo-nos nele”!

Estamos no Ano de Joaquim Nabuco, um dos maiores homens de visão na história do país. Um rico que fez opção pelos pobres, um senhor que se bateu, intelectual e politicamente, pela abolição da escravatura. Para ele, porém, sabiamente, não bastava conceder liberdade aos escravos. As bases da liberdade teriam de ser a posse da terra e a educação. A história lhe deu sobejamente razão. Da abolição sem reforma agrária e sem reforma da educação, nasceu o povo das favelas, da marginalização e da exclusão. Não é acaso que a maioria da pobreza seja de gente negra, para vergonha moral da cruel elite brasileira que ainda hoje define sua identidade pelo “ethos” do “senhor de engenho”, dono da terra e das gentes.

As lições bíblicas atingem seu ápice na liturgia de hoje com o trecho de São Mateus, capítulo 6º, o texto clássico da Quaresma, tirado do Sermão do Monte. Jesus fala dos três exercícios que caracterizam este longo retiro de preparação da Páscoa:

Esmola – esmola no sentido profundo de “elemosina”, isto é, misericórdia, sentir a dor dos miseráveis, solidariedade para restaurar a justiça;

Oração – encontrar-se com Deus como segredo intimo de nossa vida, fonte secreta de valores, critérios, atitudes e comportamentos, programar a vida pela Oração do Senhor, “Pai nosso, “ pão nosso”;

Jejum – privar-se, contentar-se com o necessário, não por desprezo pelos bens da vida que são criaturas e dons de Deus, mas por amor a quem necessita, privar-se, economizar para poder partilhar. Esmola e jejum são apelo à partilha, são a maneira de sermos generosos, semelhantes a Deus. Partilha de bens e partilha de perdão são o jeito de parecer com Deus.

Finalmente, as palavras de Jesus se concluem com o texto que acabamos de ouvir: “Não podeis servir a Deus e o dinheiro. Por isso não vos preocupeis…” e vem o texto famoso que exorta a ser como flores do campo e aves do céu, confiantes na bondosa providência divina.

Acusam a Jesus e a nós também de românticos idealistas. Como viver sem pôr confiança no dinheiro, não seria irresponsável? Longe de ser idealista ingênuo, Jesus insinua claramente a importância da Economia. Por que podemos viver sem a angústia do amanhã, por que podemos confiar na vida e no futuro? Não se trata de ser irresponsável, trata-se, antes, de vencer a angústia e, assim, não se deixar prender na cadeia do dinheiro e do afan pelos bens materiais. É que a proposta de Jesus é a comunidade, e a base econômica, realista da vida em comunidade, isto é, de igualdade, de solidariedade e de justiça, é uma economia de partilha e não de apropriação por parte de poucos. Na comunidade temos apoio nas necessidades, podemos confiar uns nos outros. Acabam a incerteza e a angústia.

(*) Bispo da Diocese Anglicana do Recife – DAR
www.dar.ieab.org.br

Obs: A Parte V será postada no próximo dia 18 de maio

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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