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É irônico que em pleno Século XXI e utilizando a rapidez e a agilidade de diversos meios de comunicação, ainda estejamos realizando a maioria da comunicação humana através de comunicados.

Explico. É que, conforme professou o pedagogo Paulo Freire ainda na década de 80 do século passado, a comunicação humana, em geral, dá-se de cima para baixo, ou seja, uma relação vertical em que a pessoa de status ou poder elevado envia a mensagem para o outro, este que não possui tal envergadura social e apenas a recebe.

O resultado é um antidiálogo, como diria Freire, pois nessa relação comunicativa não há qualquer sinal de simpatia entre o emissor e o receptor. Por isso, resultando num diálogo “desamoroso, arrogante, acrítico e auto-suficiente”, segundo palavras do educador.

O tema me vem à baila em meio a tanta profusão de instrumentos de comunicação que essa era de globalização vem proporcionando ao homem, principalmente nesse limiar de século. E por receber o quanto Freire tinha (e tem!) razão.

Para exemplificar, iniciando pela área do citado educador, na sala de aula, o professor, imbuído da sua autoridade, geralmente apenas empurra um certo conteúdo para o seu alunado. No ambiente das empresas, não é muito diferente, pois o gerente ou patrão limita-se a ditar regras e condutas aos seus subordinados.

Talvez seja por isso que os fantástico eventos sociais produzidos pela humanidade aconteceram – ao menos inicialmente – devido a não haver essa famigerada comunicação de comunicados. Mas, sim, uma comunicação horizontal, ou seja, um diálogo verdadeiramente humano, com a existência de empatia entre o emitente e o recebedor.

Tudo isso faz lembrar o genial Plínio Marcos que já dizia que, onde há autoridade, não pode haver criatividade, ou seja, quando a relação de simpatia é quebrada numa comunicação, o que resulta dessa tentativa de comunicação é o “desamor acrítico do antidiálogo”, como também observou Freire.

Isto posto, fica aqui a indagação sobre onde vamos chegar utilizando-nos de comunicados, ao invés de realizarmos a verdadeira comunicação? Afinal, nessa busca da totalidade humana, Karl Jaspers já dizia que “o diálogo é, portanto, o indispensável caminho”.

Obs: Imagem enviada pelo autor.

Texto retirado do livro do autor – Surtos & Sustos

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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