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Em pleno Século XXI, diante da rapidez das informações e da pressa inadiável dos homens, estranhamente, quem rouba a cena é a apatia. Gestada ainda no século passado com a explosão da indústria e, conseqüentemente, dos bens de consumo e serviços, ela generalizou-se e, feito um espinho encravado na garganta, indaga-nos dia-a-dia uma amarga e fria dúvida: aonde queremos chegar realmente?

Muitos conhecem essa situação muito bem. Há tempos cruzam o repulsivo triângulo da mesmice: casa-trabalho-escola. E, como resvalo – pobre resvalo – sobram a TV e o controle remoto com a vazia e inútil ilusão de que o mundo todo está a seus pés. Nessa encarnação de voláteis e volúveis protoconsumidores que nos tornamos.

Apáticos, já não observamos mais a paisagem que nos cerca. Nada de perceber a beleza gratuita do ipê neste outono tocantino. Ou o flamboyant florado na esquina do nosso ir e vir diário. Muito menos de enxergar alguém doente ou esmolando ao nosso lado. Seguimos indiferentes, centrados no eu e em suas diversas correntes de obrigações e seus inesgotáveis compromissos.

Tragédias? Catástrofes? Guerras? Quem se importa? Almoçamos e jantamos essas desgraças na TV, anestesiados em relação à miséria do outro, agora, apenas um dado, um número, um objeto distante, inacessível e desinteressante.

Presos nessa rotina virtual, todas as nossas ações são cronometradas. Hora para o trabalho, para a escola, para as compras, para o lazer. E nada deve fugir a este cronograma. Assim, não há espaço para surpresas, emoções e… sustos. Isso mesmo! Nos afastamos demais das emoções e sentimentos, itens vitais para quem foi dotado de razão e intuição.

E a grande ironia é que, nessa redoma de vidro em que vivemos, não sabemos mais de nós. Fazemos coisas sem querer e até mesmo sem saber a finalidade. E tudo isso porque nos afastamos demais do outro. O outro que tem o poder de revelar-nos – através do espelho que ele é – com suas tragédias e sustos, coisas que algum tempo atrás eram chamadas de vida.

Obs: Imagem enviada pelo autor.

Texto retirado do livro do autor – Surtos & Sustos

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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