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Na juventude vivemos o tempo certo. Nunca por antecipação. Quando envelhecemos, enveredamos por caminhos cheios de sustos e medos, os caminhos do amanhã, os desejos de ontem.
Jovens, vivemos a urgência do agora. São as primeiras festas, os primeiros namoros, os encantos dos primeiros sonhos, sonhos que realizados nunca mais serão sonhados.
A velhice chega e dá o golpe de misericórdia. Carrasco executa sua missão. Entramos na fase das coisas perdidas. Tentamos recolher os restos mortais dos sonhos e dos desejos que se desfizeram com o tempo ou se desintegram com as decepções.
A princípio o futuro é o presente de ontem. O presente que acena com tudo quanto desejamos realizar. O passado será o presente remoto.
Giram os ponteiros, precisamos deles, com eles também passamos. Quando sentimos saudade, exumamos o passado. As emoções nele contidas não mudarão. Ameaçador, o futuro avança para se destruir na realidade do agora, na metamorfose da saudade. Como refúgio corremos para trás, voltamos, não para sonhar, mas pensar que sonhamos. Assim tentamos driblar a morte, disfarçada de velhice. Sofremos de um medo terminal, medo do futuro porque já não temos como construir saudades.
Num acesso de bom senso, resolvo viver o momento. Quero me livrar da síndrome do futuro. Encontro no agora, o porto seguro, a certeza o consolo de que viver o presente é uma fórmula que ajuda a enganar certezas.
Esqueci de colocar sobre o piano uma foto do meu esqueleto, ele, o meu amigo, o que sustentou meu corpo a vida inteira.
Obs: Texto retirado do livro da autora – Morte Cega