Uma contribuição da Psicologia Moderna
 
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Com a Psicanálise de Freud (1856-1939), houve um avanço significativo na recuperação da concepção humanística, mais profunda e real do homem. Claro que ele foi influenciado pelas correntes humanista e racionalista, tendências do século XIX. O método psicanalítico se desenvolveu a partir do estímulo do paciente a relatar suas experiências. Criou-se o método da “cura pela palavra”. O novo em Freud, é que ele, ao revelar a realidade do subjetivo, do inconsciente, trouxe uma revolução para os meios médicos.

Daí para se perceber a importância do mundo interior, espiritual, foi um pulo “fácil”. O auto-conhecimento leva o indivíduo a responsabilizar-se por sua transformação e pela mudança ética da sua relação com o mundo, tornando-a mais responsável, amorosa, receptiva e criativa – e a visão espiritual pressupõe tudo isso. O objetivo de muitas práticas espirituais é a ampliação da consciência do mundo interior e do exterior. As obras de Freud, como por exemplo “Conferências Místicas”, são uma abertura para a dimensão do valor religioso que impregna o coração do homem. Ao tomar conhecimento dos mecanismos inconscientes, o homem encontra o caminha de sua felicidade e liberdade pessoal. A psicóloga Raissa Cavalcante chega a afirmar que “ o que Freud propunha é uma versão moderna e secular daquilo que Cristo afirmou:Conhecereis a verdade e ela vos libertará” . Os estudiosos do assunto mostram como ele se liga, na sua pesquisa, ao fio condutor que permeia as religiões orientais, especialmente, do Zen-budismo. Mas também, em vários momentos, sua teoria psicanalítica apresenta uma visão de inspiração espiritual cabalística. Suas descobertas caminham no sentido da salvação do homem na perspectiva psicológica, filosófica e ética. Era para libertar o homem de todo tipo de servidão de anseios e desejos que iriam cada vez mais acorrentá-lo.A sua principal tarefa era a de libertar o homem de suas fantasias e ilusões inconscientes que o impedem de ver a realidade verdadeira. Com outras palavras, ele queria libertar o homem da doença. E o remédio, o antídoto, era o amor, remédio contra todo egoísmo. Nesse sentido, sua meta era espiritual. Para ele, na sua descrição do complexo de castração, de forma mítica, isso representa a saída do Paraíso bíblico, isto é, “corresponde a um sentimento de estar separado da Origem, da Fonte, do Paraíso”. Portanto, Freud, legou à humanidade a iniciação na leitura simbólica da vida, quando mostrou que existe um significado além das aparências ( isto é, existem camadas interiores, um mundo inconsciente). Portanto, a finalidade da Psicanálise, é iniciática e espiritual.

Foram muitos os que combateram Freud. Mas ele tem uma atualização e ao mesmo tempo, uma renovação, com Jung (1875-1961). Este conservou sua independência, o que lhe permitiu um avanço na psicologia a ponto de levar à união do pensamento científico com o espiritual. Na visão dele, o inconsciente pessoal incluía o inconsciente freudiano e é a sede dos conteúdos reprimidos e desconhecidos para a consciência, os quais ele chama de “sombra”. De outro lado, elaborou a concepção dos arquétipos, que pertencem ao inconsciente coletivo. Para esse conceito, ele retorna a Platão, e também a Filo de Alexandria, voltando ao “Mundo das Idéias”. No mundo do Logos é que se encontra e se manifesta a Idéia arquetípica de Deus. Na abordagem dos sonhos, ele não dá ênfase à realização dos desejos sexuais, mas reforça as expressões simbólicas naturais do inconsciente, e aí entra a função religiosa e transcendente do Self. Esse inconsciente, para ele, é tão importante porque tem uma função religiosa. Quando reprimido, impede a busca religiosa do homem.E isso é tão fundamental que não existem pessoas irreligiosas ou atéias – quando alguém se afirma dessa forma, é porque não encontrou, num nível importante, essa dimensão no seu inconsciente.

Ele continua suas afirmações e descobertas analisando a sociedade ocidental, por demais racionalista e material. A incidência desses valores, levou o homem moderno ocidental a uma unilateralização da consciência e à negação do elemento transcendental, deixando-o alienado de suas raízes mais profundas. Com outras palavras, ele afirma ao longo de sua obra “ que o homem ocidental negligenciou o cultivo de sua alma”. Sua psicoterapia só tinha um objetivo: não era a cura apenas dos sintomas mas, sobretudo, a cura da alma e a abordagem do que ele chamava o numinoso, isto é, o esplendor interior, a luz que não se vê. Por isso, para ele as imagens sagradas, presentes nas mais diversas mitologias, constituem o patrimônio da humanidade e estão armazenadas no inconsciente coletivo.

Toda a sua teoria circula em torno do Self, que é o princípio numinoso, que é de difícil apreensão, mas que é a imagem de Deus ( ele fala disso no seu livro Aion). Para Jung, as antigas tradições são repositórios dos segredos da alma, mantidas através de muitas imagens simbólicas. Para chegar a toda essa ligação entre os dois âmbitos, o visível e o interior, ele estudou profundamente os sistemas místicos, tanto do Oriente como do Ocidente.

Sebastião Heber. Professor Adjunto de Antropologia da Uneb e da Faculdade 2 de Julho. Membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e da academia Mater Salvatoris.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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