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é na minha memória
mais que na realidade em volta
ou em qualquer fantasia
que habita a poesia que me restou.

às vezes pergunto-lhe, para ser gentil:
– como tem passado? ou
– estão lhe tratando bem? ou ainda
– as noites têm sido frescas, não?
e outras amenidades do gênero

mas ela, todo sobrevivente é assim,
é de poucas palavras e raramente responde.
quando estou tranqüilo e de folga
gosto de observá-la (sem que me veja, é claro):
surpreendo-a então com o olhar distante
mirando longes, absorta em alheamentos.

penso, sem ter certeza, que uma vez
ouvi-a sussurrar, para si mesma:
“passou, nevoeiro, passou. adiante.”
mas sua voz, quase inaudível
e sua pronúncia indistinta
podem me ter confundido.

lembra-me às vezes um pássaro triste,
que já não pode voar muito.
algumas vezes, no entanto, penso vê-la
quase feliz, distraída com alguma coisa
que nunca, ainda que tente a vida inteira,
saberei direito o que é.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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