NO DIA INTERNACIONAL DA MULHER

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No Dia Internacional da Mulher não se pode deixar de fazer uma homenagem àquela que continua presente na obra que realizou. Drª Zilda Arns Neumann, 75 anos, é a fundadora da Pastoral da Criança, mãe de cinco filhos, e avó de dez netos, vítima do terremoto que ainda comove o mundo, no sofrido Haiti.

Ela teve um trabalho que foi uma verdadeira missão. Dessa forma, usou uma metodologia comunitária, do conhecimento e da solidariedade, entre as famílias mais pobres. Ela tinha a melhor forma de combater as doenças de fácil prevenção e a marginalidade das crianças, levando a educação às mães através de líderes comunitários.

A Câmara Municipal de Salvador concedeu-lhe o título de Cidadã da Cidade Salvador, como médica sanitarista, em agosto de 2001. A homenageada foi indicada pelo vereador, também médico, Dr. Silvoney Sales.

Após 25 anos, a Pastoral da Criança acompanha mais de 1,9 milhão de gestantes e crianças menores de seis anos e 1,4 milhão de famílias pobres, em 4.063 municípios brasileiros. Essa pastoral tem mais de 260 mil voluntários que levam vida e fé , em forma de solidariedade e conhecimento sobre saúde, nutrição, educação e cidadania para as comunidades mais pobres de diversos rincões do país. Associada a essa atividade, Drª Zilda recebeu ainda da CNBB a incumbência de coordenar a Pastoral do Idoso. Logo essa outra dimensão cresceu e atualmente são mais de 129 mil idosos acompanhados por 14 mil voluntários no país.

Há, inegavelmente, uma evolução da condição feminina sobre todos os planos: familiar ( a mulher ocupa sempre a condição de condutora da vida), social (ela acede a quase todas as profissões, ao menos como princípio e, especialmente, nos países chamados de “desenvolvidos”), cultural ( nenhum ciclo universitário lhe é negado ), político ( ela ocupa postos de responsabilidade de primeiro plano ). Essa evolução é um acontecimento considerável que, de alguma forma, coloca a mulher na primeira cena da História.

Quando olhamos para a presença da mulher na Bíblia, temos, já de início , uma prevenção com relação ao Antigo Testamento, pois ele seria patriarcalista ( para não dizer machista) demais. Na verdade, os autores daquele Testamento são, teoricamente, igualitaristas.

Eles se mostram circunspectos com relação à mulher e isso por duas razões.

A primeira, é o medo de tudo que possa favorecer ou relembrar os cultos de fecundidade bastante desenvolvidos nos povos vizinhos ao povo bíblico – eram cultos “pagãos”. A segunda razão era a desconfiança em face das belas estrangeiras , que estiveram na origem, após o casamento com os alguns judeus, de práticas e cultos pagãos entre os judeus. O próprio Rei Salomão, deixou-se influenciar por uma esposa, dentre as muitas do seu harém, desviando-se para cultos estranhos às tradições judaicas.

Mas, na verdade, olhando os textos vétero-testamentários com acuidade, vê-se que não há nada que seja permitido ao homem , que seja interditado à mulher: ela oferece sacrifícios, é cantora,faz profecias, exerce a função de juíza ( isto é, pode ser chefe do seu povo) e até aconselhar o Sumo Sacerdote ( 2 Reis,22.14). O Antigo Testamento fala de grandes mulheres como Judite, Ester, Rute.

Mas, apesar dessa tradição, sem muito esforço, pode-se reconhecer que a misoginia ganhou terreno entre o povo. Um reflexo disso, é que até na época de Cristo era conhecido um canto que assim dizia:”Bendito sejais Senhor nosso Deus porque não me fizeste nem estrangeiro, nem ignorante e nem mulher”.

O evangelho de S. Lucas, deixando de lado essa tradição, dá um lugar especial às mulheres. Já no seu princípio, chama a atenção como ele sublinha as figuras de Isabel, mãe de João Batista, de sua prima Maria, mãe de Cristo e da profetiza Ana. Na continuação do evangelho, a casa de Maria e Marta (irmãs de Lázaro) era um lugar de repouso para o Senhor, e há a presença de Maria Madalena, que acompanhava Jesus com os apóstolos, sendo aquela a quem o ressuscitado aparece por primeiro na ocasião da Páscoa. No início do cristianismo, Paulo faz o primeiro batismo na Europa exatamente a uma mulher, Lídia (Atos,16,14). O convertido Apolo foi catequizado por um casal( Atos 18,26), mas é a mulher, Priscila quem é citada em primeiro lugar, mostrando a importância de sua presença nessa fase do cristianismo. Isso levou, o famoso exegeta alemão, Harnack a lhe atribuir a epístola aos Hebreus ( que é considerada da escola de Paulo, mas não dele).

Dessa forma, a Drª Zilda Arns representa uma conquista atualizada daquilo que as Escrituras chamam de “a mulher forte”, na sociedade e na mais pura tradição cristã.

Sebastião Heber. Prof. Adjunto de Antropologia da Uneb, da Faculdade 2 de Julho, da Cairu. Membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e da Academia Mater Salvatoris.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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